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Contos-->O mistério da hospício -- 10/07/2003 - 19:02 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Eu quero uma mulher!
A frase acima estava pregada por sobre a cabeça de um gordinho postado na esquina da Rua do Hospício com a Conde da Boa Vista. Num primeiro instante o sujeito pareceu-me desinteressante; um tipo comum. Sentado numa banqueta de madeira, protegia-se do sol usando uma sombrinha de frevo, que mal fazia sombra. À principio não entendi direito, mas o sinal fechado me obrigou ficar bem diante do homem, donde, mesmo à distância, pude observar melhor o quadro: um gordo sentado embaixo duma faixa amarela com a frase citada escrita em letras azuis, com dois asteriscos em vermelho nas extremidades. Embora sem importância, foram os asteriscos que me chamaram atenção.
O sujeito estava sorridente, a cada passante explicava. Como eu estava do outro lado da rua, não deu para entender o que dizia, mas os que ouviram não se agradaram, já que saiam bravos, gesticulando forte. Era assim: o curioso perguntava, o gordo pedia para falar no ouvido, em breve o ouvinte se irritava e saia furioso. Houveram casos em que houve principio de agressão. Todos que ouviram sairam para a Boa Vista rapidamente. O que será que ele dizia?
O sinal abriu e atravessei. Não pretendia me ater mais na cidade, já estava bastante atrasado; mas aquele sujeito inusitado me reteve. Não poderia sair dali sem desvendar o mistério. Contudo eu temia passar por otário; o caso cheirava malandragem. Um caso típico de pegadinhas. Por via das dúvidas me mantive uma distância estratégica, fingindo folhear um jornal à venda na banca. Decidi observar mais um pouco antes de perguntar ao homem o significado da faixa.
Uma mulher aproximou-se:
_ Ei! É propaganda, é? – apontando para a faixa.
O mesmo ritual: a mulher baixou-se à altura dos lábios do interlocutor, que cochichou a frase mágica, e a moça saiu praguejando contra este.
Eu me mordia de curiosidade, folhei o jornal à esmo, sem ler nada. Que será? O que ele está fazendo? A faixa, a postura, o sorriso, a calma... Tudo tão intrigante. Eu não iria ficar em paz se não descobrisse o que estava acontecendo, ao passo que temia passar por um vexame ou me irritar por nada. Cheguei bem próximo para tentar ouvir sem me expor. Não demorou muito para um homem se aproximar e perguntar:
_ Ei! Que danado é isso?
O gordo pediu que ele baixasse até sua boca. O curioso baixou, ouviu e não gostou. Eu não captei uma palavra, mesmo colado. Deu vontade de praguejar sem ao menos ter sido vítima da troça. Contrariado, cheguei a conclusão de que iria encarar ou voltar pra casa, o que seria uma derrota. Mas... tinha o mas.
Então me ocorreu uma idéia. Fui até o sujeito, respirei fundo e perguntei, sem olhar para a faixa:
_ Por favor, que horas são?
Ele me olhou desconcertado. Por certo esperava outra pergunta. Respondeu perguntando:
_ É comigo?
_ Sim senhor. Tens horas?
_ Que horas?
_ Horas! Horário, será que já é meio-dia?
Seu rosto, antes esnobe, endureceu; seus olhos me fuzilaram Levantou-se:
_ Isso é uma pergunta que se faça?
_ E por que não?
_ Eu tenho cara de relógio?
_ Desculpe, eu não tinha intenção de arretá-lo...
_ Mas arretou, pôra! Eu batalhando neste sol, suando, num calor da pôra e tú me acaba?
_ Eu só quero saber a hora...
_ Seu velhaco. Eu já entendi...
Foi uma tacada de mestre, pois tirei o sujeito de sua linha de ação, alterando o curso de seu planejamento. Sua estratégia desabara. Mesmo sem querer eu inverti as posições; agora era ele que estava furioso e eu esnobe, sem saber do que.
Ficamos os dois frente a frente, ambos aguardando a atitude do outro; parecíamos samurais. Ninguém baixava a guarda. Eu já tinha esquecido da pressa. Nenhum dos dois vastrou . Passamos algum tempo assim, não sei precisar quanto, até que o gordo agarrou a banqueta e a faixa, girou sobre os calcanhares e saiu.
Quando estava a vinte metros virou-se para mim e gritou:
_ Queria dizer o que eu dizia, não é?
Indeciso admiti que sim com a cabeça.
_ O que eu falava era isso...- pronunciou a frase misteriosa sem som, apenas gesticulando os lábios.
_ Não entendi - retruquei
_ É isso mesmo, seu cabra.
E tomou o caminho para o Parque 13 de Maio.
Confesso que fiquei tão vexado quanto aos que tinha baixado para ouvi-lo. Tomei meu rumo sem olhar pra trás.
O que será que ele dizia?
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