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Artigos-->Quem não se lembra: Ivan Guerini -- 14/04/2024 - 21:36 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

 

 

Cronicas-->Os Sonhos de Raul Seixas -- 10/04/2008 - 06:51 (Ivan Guerrini)  Siga o Autor Destaque este autor Envie  Outros Textos
É interessante perceber as voltas que a vida dá. Quando eu era um jovem estudante de faculdade, década de 1970, alguns colegas de escola e igreja cantavam Metamorfose Ambulante, Medo da Chuva e Maluco Beleza de Raul Seixas. Eu observava ressabiado, não me inseria no contexto, ficava distante, talvez porque lá no fundo eu não me permitia, não aceitava ou mesmo não entendia a necessidade daquela rebeldia de jovens nos seus 20 anos. Parece mesmo que eu não estava preparado para esse tipo de ousadia naquela época. Meus padrões eram rígidos demais para aceitar Raul e suas músicas. Penso, hoje, que eu sentia uma necessidade de "ser santo", viver o solenemente pregado "sede perfeitos" numa visão eclesiástica moldada pela conformação e sublimação, onde o prêmio maior era guardado para o futuro. Era a época da castidade da vida e do conhecimento. Acredito que tenha sido necessária e importante a vivência dessas máximas para que eu pudesse subir os degraus mais básicos de minha evolução como ser humano. Eu não sabia, mas haveria muitos degraus dolorosos pela frente e esses ensinamentos muito me ajudaram a transpó-los. Portanto, naquela época, ser santo e perfeito, pelo menos para mim, era ser observador rigoroso de todas as normas que a sociedade e a igreja me impunham. Meus pais nem precisavam me forçar a nada, era algo natural, eu me colocava nessa situação e me ajustava, me sentia bem. Foi uma rotina em minha vida de adolescência e juventude ganhar medalhas de melhor aluno em muitos anos escolares. Meu rendimento sempre foi acima da média para gáudio e aplauso dos familiares e amigos, um super orgulho para os pais. Na igreja, fui líder de movimentos jovens, ministrando inúmeras palestras em treinamentos de liderança cristã, em cursos de busca de unidade entre os cristãos e em cursos de noivos. Foi um período de grande desenvolvimento pessoal na visão de mundo que me acompanhava. Eu me esforçava para, como dizia Raul, "ser um sujeito normal", ou melhor, um sujeito perfeito dentro do padrão normal imposto pelas regras vigentes. Enquanto isso, Raul falava de ficar maluco beleza, algo impensável, fora do cabo para a fase que eu vivia. A vida linearmente prevista, no entanto, regada a leis clássicas da ciência e da igreja carregava, mesmo com muitos sucessos, um forte potencial de ruptura lá na frente. Filosoficamente, a vivência rigorosa das regras de Descartes não impediu as rupturas de Kuhn; ao contrário, penso que as atraíram. Não dei bola para alguns indícios de desmoronamentos, cheiros de fumaça no ar que surgiram em minha juventude e continuei em minha busca do prêmio final previsto e garantido pelas regras clássicas. Pois é, depois dos pequenos deslizamentos, segundo o modelo da pilha de areia para sistemas dinàmicos, vem a avalanche. E vieram as grandes rupturas! Só fui descobrir os motivos de Raul Seixas cantar o que cantava quando me aproximei de completar meu sétimo setênio. Foi a vivência do 7 x 7, um sentido bíblico de plenitude. E não é que ele tinha muito mais razão do que eu imaginava? Mas era necessário eu trocar de janela para olhar o mundo e entender Raul, enquanto que antes eu achava que só havia uma única janela para entender a vida, aquela a mim ensinada. Sei que valeu a fase de ortogonalidade, já que foram degraus básicos importantes e que me deram suporte para alçar vóos mais altos e ousados em outras fases da vida. Fernão Capelo também deve ter tido sua fase de buscar restolhos de peixe ao redor dos barcos, pensando ser isso tudo o que poderia ser feito. Acho que aprendi o que Raul quis dizer com "o segredo da vida" e agora sou eu quem não pode entender tanta gente vivendo a mentira. Perdi o "medo da chuva"... Transpiro aos que me rodeiam alguns contornos da metamorfose ambulante de Raul e não quero mais ser uma pedra que chora sozinha no mesmo lugar. Quem diria, entretanto, que aqueles amigos que cantavam Raul naquela época são exatamente aqueles que se esqueceram das mensagens alardeadas por seus corações juvenis? Será que não podem mais deixar de aceitar a mentira? E suas metamorfoses? Enrijeceram-se? Em ressonància com suas canções, eles não diziam aos quatro cantos que não poderiam ser felizes amando uma vez, Raul? O que aconteceu com eles? Por que continuam traindo a si mesmo se cantavam esse germe da liberdade e ousadia na juventude? Não podem mais olhar os amores que a vida lhes traz? Ficaram com medo da chuva? Será que estão crendo, tantos anos depois, que os sonhos desfazem aquilo que o padre falou? 
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