IMPERFEITOS
Lílian Maial
Manca é a marcha nessa trilha,
Que não tem começo,
Que não tem mão no tropeço,
Que não tem sombra, nem refresco.
*
Branca é a cor da tua face,
Que não tem traços definidos,
Que não tem olhos escondidos
Por trás das órbitas profundas.
*
Rouca é tua voz que clama por vida,
Que não tem saída,
Que se vê oprimida,
E sem rumo ou lugar.
*
Trêmulas são tuas mãos senis,
Que já acariciaram, febris,
A fronte da esperança,
Com sede de juventude e paz.
*
Frágeis são tuas idéias,
Que insistem em não mudar,
Que assistem desmoronar
As paredes pintadas do correto.
*
Tênues são teus momentos
De lembranças de tempo feliz
De criança com liberdade
De subir nas árvores do atrevimento.
*
Vazios são teus dias,
Sem destino, sem objetivo,
De quem se dedicou à verdade
E não viu passar o sonho.
*
Arrastadas são tuas horas,
Como foram meus minutos.
Cegos são teus dedos,
Que não sabem tocar o coração.
*
Muda é tua boca,
Estáticos são teus lábios,
Inertes teus braços,
Esquecidos de abraços.
*
Secas são tuas lágrimas,
Que já não expiam tua culpa,
Que já não lamentam tua sina,
Que já não lavam tua dor.
*
Opaco é teu sorriso,
Que já não rasga a face
E nem move as orelhas,
Que não escutam minhas palavras.
*
Inútil é tua vida,
De tantos anos desperdiçados,
Tantos valores invertidos,
Tantos vôos interrompidos.
*
Tantas lacunas não preenchidas.
Tantas perguntas não respondidas
E eu, por tanto tempo,
Esperando por ti.
*
Imperfeitos que somos,
Que não soubemos ouvir,
Não quisemos ver,
Não pudemos sentir
O quanto nos amamos.
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