Este dialogo presenciei dentro de um posto de saúde no Bairro do Ibura, numa manhã que lá estive para uma consulta. Um homem do interior, aproximadamente cinqüenta anos, fazia o prontuário, atendido por um servidor tranqüilo, desses que tem uma vida na mesma função:
- Pra que médico? – perguntou o atendente.
- Clinico...
- Seu nome é...- olhando a carteira de identidade – Roboaldo Amancio da Silva, é?
- É esse mesmo. Mas não é Amacio, é Amâncio. Roboaldo Amâncio.
- Nome estranho, hem!
- Feio?
- Não, não... de forma alguma, só estranho.
- Eu acho um nome bonito.
- É pensando bem é um nome forte.
- Forte eu sou mesmo.
- Mas me diga: como te chamam os amigos mais chegados, tens um apelido?
- Tenho sim: é ET de Vagina
- Varginha, o senhor quer dizer.
- Não, é vagina.
- Senhor, é Varginha, em homenagem ao suposto E T que teria pousada em Minas Gerais.
- Quem disse isso ao senhor?
- Ora todo mundo sabe.
- Todo mundo sabe meu apelido?
- Não, todo mundo sabe sobre o E T de Varginha?
- Tudo. O seu apelido não pode ser ET de Vagina. Sabe o que é uma vagina?
- Não?
- Pois é um órgão da mulher, faz parte do aparelho reprodutor feminino, entende?
- E o que o aparelho reprodutor feminino tem com o meu nome?
- O aparelho nada, mas a vagina tem.
- Mas o senhor falou agorinha que não tem nada a ver.
- Tem, quer dizer não tem. Vagina é diferente de Varginha, entendeu?
- Não.
- E tu já viste uma vagina?
- Não, nem sei o que é isso.
- Bem – baixinho – e uma boceta?
- Há sim, eu tanto vi que tenho uma no cavalo.
- Como assim?!
- A boceta, pra levá mercadoria; é de couro puro.
- Não, não é isso.
- O que é então?
- Perereca, já viste?
- Muitas, lá em casa tem muitas, é uma sapaiada só.
- Não! Não é perereca de sapo, é perereca de boceta.
- Mas é sapo ou boceta afinal!
- Meu amigo, você não está entendendo : o que eu falo é... bom, coisa da mulher. Fala ai, nunca comeu.
- O quê?
Baixinho no ouvido
- Um periquita...
- Não, periquita não. Comi muita rola na minha vida, mas periquita até acho que faz mal.
- Ah! então é chegado numa rola.
- Muito; principalmente se for grande, daquelas que uma só já satifaiz. De rolinha quero distância, a gente come, come e nunca enche.
- Bom, eu prefiro periquita, rola não é comigo – gracejou o atendente.
- Há! mas bem assada vai que é um luxo.
- Assada?
- É, depena e frita. Ou pensava que eu comia o passarinho cru?
- O senhor fala da pomba-rola.
- É, e de que mais seria?
- É de tabaco.
- Tabaco? Eu nem fumo...
- Sei. E xoxota?
- Nunca ouvi fala.
- Meu Deus do céu!
- Mas me diga: o que isso tem a ver com meu apelido?
- Nada – desistindo irritado – Mas o correto é Varginha e não vagina, entendeu?
- É vagina sim!
- Amigo, o único E T que eu conheço é o de Varginha.
- Qué dize que vagina não conhece?
- Claro que conheço, sou homem.
- Mas que home doído, falou agorinha que não conhecia?
- Conheço sim!
- Varginha?
- Eu não conheço Varginha, conheço vagina – berrando.
- Olha, vou te falar um negócio: tira umas férias que o senhor endoidô.
- É?
- É; e me dá esta ficha.
Fui o próximo, sem menção alguma ao E T . O atendente estava desolado.
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