Como disse o grande poeta Vinícius de Morais, em letra inesquecível, "É melhor ser alegre que ser triste".
O amado leitor vai certamente se surpreender:
-- Como é que alguém que lê Ezra Pound pode gostar tanto das letras de Vinícius de Morais?
E o querido leitor ainda vai acrescentar:
-- Como alguém pode considerar sábia uma frase óbvia como essa?
Bem, responderei: nem tudo tem de ser pedante ou complicado, e mesmo no óbvio e no clichê pode haver muita verdade.
Há ainda que dizer que praticamente todas as mulheres do mundo gostam e admiram o grande Vinícius de Morais. Por que é que os invejosos e umas poucas mal humoradas podem lhe roubar o título de grande poeta?
Bem, vamos deixar de lado a repetitiva e desagradável disputa literária. Uma vez na vida vamos pensar com alguma profundidade e tentar entender porque tantas vezes a tristeza é capaz de devorar a alegria.
É que algumas vezes a tristeza é tão grande... A tristeza de ser surpreendido por uma decepção, seguida de outra decepção e mais outra. É claro que um verdadeiro religioso entenderia tudo isso como uma provação, algo que a Providência nos envia para nos testar e nos fortalecer.
Contudo, quem não seja tão religioso assim se sente tentado a deixar a decepção o levar por tristes mares. Como disse outro letrista, também muito simples, mas melhor ainda que Vinícius de Morais, mas infelizmente não tão célebre:
A tristeza não precisa ficar.
Talvez em um momento de tristeza quase avassaladora, só reste à alegria ser algo indigerível. Como a minhoca de Jaguar (epa! :-))), conhecido humorista carioca, que disse à galinha que iria devorá-la:
-- Se você me morder eu defeco em sua boca.
Com o que conseguiu a minhoca não ser devorada.
Talvez seja possível, enfim, ser insubmergível, como as bóias de flutuação, que podem ser submergidas por ondas portentosas, mas que depois voltam a boiar, como se nada tivesse acontecido.
Enfim, todos esses adjetivos que permitem aos fracos, de modo geral, enfrentar o poder dos fortes. Enfim, ceder os anéis para não perder as mãos. Ceder talvez as mãos para não perder os braços.
Como o Rei do Livro das Mutações, que se fingiu de louco para sobreviver a um tirano usurpador.
Enfim, ter alguma esperança de sobrevida, uma tenacidade até mesmo de João bobo, que outras regiões chamam de João Teimoso -- e levantar depois de derrubado.
É claro que, em algum momento, a perda de coisas muito caras pode nos fazer perguntas à la Brecht:
-- O que mantém um homem vivo?
Mas isso é tema para outro texto.
(Copyright © 2002--2012 José Carlos Penfield da Costa Espinosa)
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