A vaidade é dos pecados
Aquele que mais me toca.
Hoje vão ser molestados
Os ouvidos pela roca.
Em linguagem bem cifrada,
Eu não consigo dizer
Que não vale mesmo nada
A vaidade maldizer.
Se tivermos algum mérito,
Ele aparece na hora:
Depositemos um crédito
Neste amigo, sem demora.
Vim aqui para dizer,
Pondo às favas a modéstia,
Que se precisa crescer,
Fugindo de tal moléstia.
Meus irmãos, está na hora
De aceitar o Espiritismo:
Se o sofrer não revigora,
É hora desse batismo.
Aceitar o sofrimento
É mérito superior,
Mas fazê-lo sem tormento
Exige muito valor.
As pessoas, entretanto,
Deitadas sobre o sucesso,
Pensam vestir-se dum manto
Que as abrigue no regresso.
Por isso, agem mesquinhas,
Arruinadas por vaidade:
Pensam viver sobre as linhas.;
Mantêm-se por caridade.
É preciso ser esperto
Para sentir tudo em volta:
Jamais se julgue bem certo,
Pois insucesso revolta.
Falamos bem claramente.;
Nada escondemos, amigo:
Não perturbamos a mente,
Se mostrarmos o perigo.
Prevenir os acidentes
É, sim, dever dos antigos.
Sejamos muito pacientes:
Construamos uns abrigos.
A verdade predomina,
Quando se é bem leal.
Temos o mapa da mina:
Amor é primordial.
A virtude que declaro
Como sendo essencial
Não é bem que seja raro,
Tampouco transcendental.
Mas os seus possuidores
São pessoas especiais,
Que enfrentam todas as dores,
Sem que ouçamos os seus ais.
Qualquer dia, no futuro,
Algum espírito puro
Vamos ter na nossa frente.
Se não tivermos vergonha
— Com isso minh alma sonha —,
Vamos vê-lo diferente.
Explicações pediremos,
Pois algumas noções temos
De como será tal gente.
O amigo, então, vai dizer,
Rindo bastante, a valer:
— “É você que é diferente!”
Ficaremos indecisos,
Ouviremos os avisos
Duma consciência serena.
Só aí perceberemos
Que a virtude que trazemos
Toda maldade condena.
Irradiaremos as luzes,
Camuflados por capuzes,
Para que ninguém se iluda,
Pois saber-se superior,
Reconhecer seu valor
Só ao próprio ser ajuda.
Divulgar o próprio mérito
Será cair em descrédito,
Como diante de espelho.
O vaidoso está perdido.;
Não mais vai ser escolhido:
Suas costas comem relho.
A modéstia, entretanto,
Não perde jamais o encanto:
Deixa a todos boquiabertos,
Com vontade de dizer
Que um dia hão de fazer
Procedimentos mais certos.
Os bons exemplos arrastam.
Os maus somente devastam.
Tal escolha é toda sua.
Caso se sintam perdidos,
Rezem p ra serem ouvidos,
Pois a vida continua.
Versejar é sacrifício
Que vai tornando-se vício,
Quando o sucesso aparece.
Por isso mesmo, irmãozinho,
Toda rosa tem espinho:
Quem se fere não esquece.
Se formos continuar
Nesta arte de rimar,
É bom sejamos modestos.
Nem todo verso é perfeito.;
É preciso dar um jeito:
Moderemos nossos gestos.
Sendo assim, o treinamento
Deixa de ser um tormento:
É preparo p ro infinito,
Pois exige de nós todos
Que nos livremos dos lodos,
P ro verso ficar bonito.
Cumprimos nossa missão.
Não é forte esta ambição:
Tá satisfeito o desejo.
Vamos, pois, modestamente,
Dar a mão ao escrevente,
Que tocou o realejo.
Agradecidos ficamos
Aos serviçais que são amos,
Pela do Cristo figura.;
E ao Senhor dizemos bem
Que agradecemos também
Esta ajuda tão segura.
Agora vamos partindo,
Uns chorando, outros rindo
De eterna felicidade.
Se nem tudo foi perfeito,
Vaidade jazeu no peito:
Sufocou-a a verdade.
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