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Contos-->Uma entrevista de verdade -- 04/07/2003 - 18:48 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


_ Bem, nas horas vagas fico com a família, além é claro de procurar alguma vadia na Conselheiro Aguiar. Mas isso só de noite...
_ Como?
_ Mulheres. Aquelas meninas que ficam na Conselheiro Aguiar...
_ Sei. Mas o Senhor está brincando, não é?
_ Tô não.
_ Mas vai publicar isso?
_ É lógico! Você não quer honestidade? Queria me entrevistar para sua revista, pois bem, estamos aqui.
_ Mas Senhor, publicar isso seria...
_ O quê?
_ Um escândalo.
_ Por quê?
_ É incomum.
_ Ir até a Conselheiro Aguiar?
_ Não, isso não. Mas dizer a verdade.... assim.
_ É o que eu faço pelo menos duas vezes na semana. Escreve aí.
O jovem repórter estava pasmo. Não distinguia se seu entrevistado estava falando sério. Precisava manter-se calmo. Fora recomendado diretamente pelo editor chefe, um deslize e iria entregar jornal o resto da vida.
_ Vamos ver se eu entendi: o Senhor está dizendo que eu poderia publicar que o Senhor vai duas vezes por semana até Boa Viagem e sai com prostitutas?
_ Isso. Pode publicar à vontade.
Silêncio na sala.
_ Mas senhor, isso arruinaria sua carreira.
_ Por quê?
_ Porque isso não é coisa que se publique.
_ Quem disse?
_ Bem...
O repórter estava em pé. Nada tinha ido para a caderneta desde o inicio.
_ Deixa de onda. Senta e escreva.
_ É uma loucura!
_ É a verdade, não é?
_ O Senhor que está dizendo.
_ Então é a verdade, escreva.
E o repórter escreveu:
“Nas horas vagas, além de ficar com a família, gosta de passear por Boa Viagem”.
_ Não, não, risca isso. Não foi o que eu respondi. Não, não, não!
E o repórter riscou a resposta e tornou a escrever:
“Nas horas de folga, além de ficar com a família, gosta de passear por Boa Viagem, sendo que não dispensa uma olhadela nas mulheres”.
_ Não, não foi isso que eu disse . Seja fiel as minhas palavras. Você já está me irritado seu cabra!
Agora quem estava em pé era o entrevistado.
_ Escreva certo.
_ Mas e sua esposa?
_ Ela sabe de tudo.
_ E não se importa?
_ Não.
_ E sua imagem?
_ Eu não me preocupo com ela. Sou rico, tenho tudo que preciso e não devo nada a ninguém.
_ Todos vão saber, falar...
_ Que saibam. EU NÃO ME IMPORTO. Quero que se expludam... pode escrever isso também: eu estou pouco me lixando para o mundo. Eu saio com as prostitutas e pronto. Agora escreva a minha resposta corretamente senão acaba a entrevista.
Não podia acabar. Tinha batalhado muito por aquela entrevista. Vários dias de contatos, agendamentos, viagens perdidas, para estar diante de tão ilustre personalidade. Seria humilhante retornar para a redação com as mãos vazias.
_ Ok!
E escreveu;
“E nas horas vagas, gosta de estar com a família, além de procurar por prostitutas em Boa Viagem”.
_ Isso, isso mesmo. Apenas acrescente “pelo menos duas vezes por semana”.
E o repórter acrescentou.
_ O Senhor assume esta resposta, naturalmente?
_ Evidente que sim.
_ Assinas uma declaração?
_ Claro, onde?
_ Depois, depois no final.
O repórter bebeu um gole d`água e fez a pergunta seguinte:
_ O senhor sendo um dos médicos mais conceituados do Recife, tenho construído uma carreira invejável, não crê que uma declaração como esta poderia prejudicá-lo; inclusive profissionalmente?
Voltando a sentar-se e readquirindo a calma anterior, respondeu:
_ Eu não declarei nada. Apenas respondi o que fazia em minhas horas vagas. E quanto a minha carreira não vejo como isto me prejudicaria, afinal estou sendo honesto e honestidade é o que os pacientes esperam de seu médico.
O repórter fechou a caderneta indignado.
_ Isso não está certo!
_ Como não? É a única resposta certa. É a verdade.
_ Mas a verdade vai acabar com o Senhor.
_ Mas é a verdade.
_ Uma verdade que não pode ser dita.
_ A verdade tem que ser dita sempre. Não é assim?
_ Não sei, não sei...
_ Por que a dúvida?
_ Porque é difícil.
_ Dizer a verdade é assim tão ruim?
_ É embaraçoso.
_ Seu jornal se sente embaraçado ao publicar a verdade?
_ Não...
_ Como não? Se uma resposta tão simples te deixou neste estado, imagine respostas maiores.
_ Maiores?
_ É maiores: política, futebol, mulheres...
_ Sim, sei lá!
_ Tudo é uma grande mentira então?
_ Não!
_ Que dúvida hem!
Houveram mais perguntas; mais dúvidas; mais embaraços.
A entrevista chegou ao redator, que aguardava ansioso. Tudo foi editado, e a perguntinha inicial não saiu, para o bem geral da nação.


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