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Artigos-->Análise de Valério F. da Costa para os poemas de Vinholes -- 18/01/2024 - 18:06 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A ANÁLISE DE VALÉRIO FIEL DA COSTA

PARA OS POEMAS COLETIVOS DE L. C. VINHOLES

 

L. C. Vinholes

18.01.2024

 

Nota: Há muito escrevi este texto que, por razões que não saberia dizer quais são, ficou guardado dentro de uma das tantas pastas do meu arquivo de gavetas. Relendo o que havia escrito e, não só concordando, mas especialmente agradecendo as argutas observações do compositor amigo, decidi consulta-lo e dele merecer o apoio e a devida licença para tornar público o que está registrado nos parágrafos deste artigo.

Valério Fiel da Costa é compositor, professor de composição, análise musical e musicologia do Departamento de Música-DEMUS e do Programa de Pós Graduação em Música da Universidade Federal da Paraíba e autor da monografia de doutorado Vinholes e Cage: indeterminação e silêncio, de junho de 2005, apresentada no âmbito de Programa de Pós-Graduação em Música, da UNICAMP. É também de sua lavra a comunicação A Teoria Tempo-Espaço como ferramenta analítica para obras de caráter aberto de L. C. Vinholes: caso da Instrução 61, de 2014, elaborada de pareceria com sua colega Danielly Mayara Dantas, apresentada no XXIV Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós Gradação em Música.

O texto a seguir é como que um diálogo que mantenho com o compositor e que analisa os processos e parâmetros que criei para produzir o que chamei de poesia coletiva. Vejamos

 

O compositor Valério, discorrendo sobre Processos Criativos na Música Aleatória e Indeterminada Brasileira, procurando “definir melhor o termo indeterminação em música” buscando substituí-lo por imprecisão, depois de analisar “a natureza da obra musical, seus limites, o efeito da ação de agentes sobre aspectos morfológicos, sua existência espaço-temporal, sua natureza sistêmica, para tentar definir de forma precisa o estatuto da indeterminação na música”, refletindo sobre as obras de compositores tais como Gilberto Mendes, John Cage, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen e sobre o pensamento de Renato Rocha Lieber, Martin Iddon, Niklas Luhmann faz a seguinte afirmação:

 

“Cito como obra fundamental para ilustrar tais ideias, um dos dois poemas-painel do compositor e poeta L. C. Vinholes, concebidos originalmente como poemas visuais para serem expostos durante a XII Exposição do Grupo TAO, em Osaka, Japão, em 1967. Trata-se de “olhos”, um painel de um metro quadrado, composto de recortes de olhos aleatoriamente dispostos no vazio, em torno da figura central de um “I” (“eu” e “olho” na pronúncia inglesa). O outro painel é “bocas” com a figura de um prato vazio no centro (lembrando nada para comer) cercado de bocas. Tais poemas-painel foram retomados posteriormente, com o nome de Arquipélago, para figurarem como expressões da ideia de mobilidade espaço-temporal de uma obra. Durante o Festival da Palavra em Veneza, em 1997, pediu ao público que elaborasse títulos para o poema-painel “olhos” usando a página em branco do catálogo do Festival, a ele reservada. Uma vez preenchida, as recolheu e com os títulos compôs/escreveu em uma tela um poema mesóstico com a palavra olho como coluna central. Depois devolveu-lhes os catálogos e, terminado o evento, as pessoas foram embora para suas casas, países e obrigações. Tal evento poderia ser visto como um caso simples de composição efêmera e coletiva tipo happening, em que os objetos são consumidos, no processo deixando de existir. Entretanto o compositor, ao invés disso, propôs que se refletisse sobre o que aconteceria com aqueles catálogos dali em diante, sugerindo que a obra entrara num novo regime de desenvolvimento espaço-temporal impossível de ser mapeado. Nas palavras do próprio compositor em entrevista concedida a mim em julho de 2005, em sua casa em Brasília”:

 

Esses catálogos estão indo embora e o espaço ocupado pelo trabalho feito se dilata. Esses catálogos vão durar até quando? Alguns vão ser destruídos, outros vão ser queimados... vai ser minimizado o tamanho do trabalho feito. Nisso aí existe autoria, nisso aí existe coisa feita, nisso aí existe espaço para a coisa feita, mas ninguém tem ideia do que é, onde está e por quanto tempo (Vinholes: 01/07/2005). 

 

 

 

Painel do poema coletivo bocas

 

Valério continua: “Os catálogos entraram num regime de dispersão sem retorno fazendo com que aquilo que havia sido construído enquanto obra em um determinado momento, não parasse de desenvolver-se, de adquirir novas formas, e de perder elementos em função do desgaste do tempo e demais agentes externos. Ainda Vinholes, em texto escrito por ocasião de uma performance em Milão”:  

É um “trabalho” que dá continuidade e amplia o pretendido em Osaka (1967) no qual o público, dando títulos aos meus poemas-painel “boca” e “olho”, colaborou na criação de uma obra poética de produção coletiva. Em Milão, os títulos foram registrados na página que me foi reservada no catálogo distribuído durante o Festival e que, propositadamente, deixei em branco. O que resulta dessa experiência não tem registro gráfico unificado, ocupa espaços em lugares determinados, mas desconhecidos; cria forma que, por razões as mais diversas, se metamorfoseia à medida em que o tempo passa e as circunstâncias mudam; se dissemina por razões que nunca serão conhecidas; tende a desaparecer à medida em que as páginas do catálogo ou o próprio catálogo desaparecerem; e seu término de existência nunca será fixado nem mesmo pelos que participaram de sua criação. (Vinholes)

Valério conclui: “Quando ouvimos uma peça musical não a transportamos conosco operando um processo semelhante ao que foi desencadeado em Veneza? Cada ouvinte levaria para casa sua sinfonia de Mozart ressoando na cabeça e, esta, sofreria uma deterioração gradual em função do tempo e da memória. Teríamos que reconhecer a obra como um processo mais complexo do que suspeitávamos de início: como algo mais à deriva do que propriamente ancorado à alguma referência sólida. A obra, em toda a sua plenitude, sobreviveria apenas durante os momentos em que soasse diante de uma audiência, para depois dispersar-se aqui e ali como fumaça na mente dos ouvintes eventuais. Tal qual Vinholes questionara sobre seu poema-painel "olhos", deveríamos nos perguntar "onde se encontra neste momento a Sinfonia 41 de Mozart?".

 

“A obra musical goza de uma existência espaço-temporal”.

 

 

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