Quando o moleque começou a fazer malabarismo no semáforo, vi aquela imagem multiplicando-se por um milhão, com todos os sinais de trânsito mantendo-se insistentemente no vermelho. Ele alternou inúmeras vezes quatro pequenas bolas entre o ar e as mãos. Fez piruetas e deu cambalhotas. No final, estendeu a mão na esperança de obter alguma recompensa. Quando a luz ficou verde, os dois carros que estavam à frente do meu saíram em disparada. Sensibilizado, baixei o vidro e, ao tempo em que esticava a mão com algumas moedas, perguntei:
-Você quer dinheiro, né moleque?
O garoto, com um sorriso careado, respondeu-me:
-Eu queria mesmo era dignidade, mas esse dinheiro já ajuda um pouquinho a minha mãe.
Enquanto o menino falava, pude ver um marmanjo aparecer do nada e pôr a arma na cabeça de um motorista que estava parado no semáforo da rua transversal a que eu me situava.
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