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Contos-->Solilóquio -- 01/07/2003 - 23:04 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Solilóquio

João arrumou suas malas. Eram poucos os pertences. Uma camisa, uma calça e as sandálias.
Não se preocupou com as taramelas.

A santa o interpelou no meio do caminho, entre o canteiro e a rua de pedras miúdas.
- Vai aonde?
Era preta. Tinha um manto azul. Cabelos compridos e negros.
- Aonde pensa que posso ir?
Quem o ouvisse, diria-o com raiva. E estava. Cuspia fogo pela boca. Para dentro.
- Perguntei aonde vai.
A negra era veemente. Exigia dele santidade. E ele a amava em sua mudez de fiel.
- Embora. Para onde nunca devia ter saído. Fora desse mundo lazarento. Peste, peste, pestilência!
- Vai para o nada, João?
- Minha santa, senhora, não há caminho pra mim. Só uma cova com uma boca demente que me cobra todo dia o que eu não faço porque ajuda não existe.
- E eu não te ajudo, João?
- Você, minha santa?

E dos olhos de barro da santa preta como a miséria humana, saíram dois filetes de sangue. Pretos de tão rubros. E ela tornou-se como que pequena. Perdia a cor, seu manto. Diante de João, nua.
E o cenário ganhou formas cruas como cozidas jamais haviam sido.
O cenário do inferno de Dante, mais cruel pois florido de realidadezinhas pequeninas.
Guerras, gritos, famílias carnívoras, amigos traiçoeiros. E o gramado, um tapete de dinheiro. De um verde envolvente.

- Não é ele a droga, João.
A voz fraquinha da santa que se misturava ao lépido da terra que tanto serve como parideira quanto como aquela que encerra.
- Vê meu olho, senhora. Um rio quente de tristeza, um riso endemoniado de decepção.
- João, a cruz. Nela morrem pessoas lutando, não se entregam. De linho grotesco é teu tecido. Por isso, as vezes te vergas.

E João olha a planície desassociando juventude de velhice. Não tem esperança, nem acumulo de vingança. É um pobre. Por isso de riquezas se veste.

E a santa, como sói ao amor nos lábios das mulheres honestas segreda como se fosse sua mesma a ultima tentativa de vida na terra.

- Fica comigo e adormece.

E João tenta mais um dia. De forma indefinida. Até que a chuva nos lave e que deus nos carregue.

L.Lima


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