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Contos-->De irmã mais velha à titia. Em poucos minutos. -- 30/06/2003 - 14:43 (Iris Coldibelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tudo mudou naquele instante em que o celular tocou. Aquele domingo calmo e tranqüilo marcava minha vida para sempre.

Do outro lado da linha minha irmã mais nova, àquela que eu considerava ainda uma criança e que ao encarar qualquer problema da vida sempre pedia a minha ajuda.

E daquela vez não foi diferente.

No fundo daquela ligação distante, graças à qualidade do sinal das nossas companhias telefônicas, aquela vozinha trêmula e quase chorosa, que eu estava acostumada a ouvir pedindo coisas como me ajuda para passar de ano, não conta nada pra mamãe. Desta vez indagava: Irmã! Acho que estou grávida.

Após alguns segundos de perplexidade, puz-me a gaguejar no telefone algumas baboseiras do tipo: não se preocupe vai dar tudo certo. Coisas que eu mesma calculava serem estupidamente inúteis, mas que por pura falta de argumentos era o que me restava para preencher aquele vazio que se fixou entre as nossas vozes.

Nestas horas, o que se deve fazer é ganhar tempo para encontrar as melhores palavras a serem ditas. Afinal, ela precisava ouvir, o que naquele momento era a voz da experiência. Personificada logo em quem. Eu, a irmã mais velha.

Já, com uma responsabilidade enorme sobre minhas costas, sugeri que ela viesse até minha casa. Assim, eu teria alguns minutos para retomar a consciência e pensar no que fazer.

Àqueles 20 minutos pareciam uma eternidade. Milhares de coisas passavam pela minha cabeça. Lembrava da minha irmã brincando de bonecas, da carinha dela quando pequena, imaginava aquela menina, que eu via ainda como uma criança, com uma criança nos braços.

Confesso que a idéia não me agradava. Afinal, ela ainda tinha muito para viver, muitas possibilidades e não era justo joga-las para o alto assim.

Mas a possibilidade de ter um sobrinho também me encantava. Uma criança mexe com a família inteira e eu tinha certeza de que minha mãe iria adorar a idéia de ser avó.

Ao mesmo tempo em que este conflito me atingia eu lembrava de que não deveria, em momento algum, influenciar na decisão de minha irmã. Esta era uma decisão pra vida toda e, quem era eu para dizer a ela o que fazer. Desta vez, eu era só a irmã mais velha.

Pensei em milhões de coisas que eu poderia dizer, mas só uma me pareceu boa o bastante naquele momento. Então esfriei a cabeça, tomei um copo d’água e aguardei ansiosamente o interfone tocar.

Abrir a porta e olhar para aquela carinha carente, desesperada, me fez esquecer todos os argumentos convincentes nos quais eu havia pensado.

Abri um sorriso nos lábios, a abracei e disse a frase que, até hoje, considero a mais ridícula de toda a minha vida Calma, isso não é a pior coisa do mundo.

Isso é conselho que se dê. Pelo amor de Deus era melhor ficar de boca fechada. E a melhor coisa que se faz quando se quer fechar a boca é colocar alguma coisa dentro dela.

Foi o que eu fiz. Ofereci chá e bolachas a todos os presentes. Eu, Ela, o namorado e o amigo confidente e desesperado como eu, que estava à tira colo.

Passado o susto, fiz as perguntas, que são consideradas de praxe nesta ocasião. Você não está tomando pílula? Porquê, então, vocês não usaram camisinha? Que tipo de teste vocês fizeram?

Para esta última pergunta, o namorado sacou do bolso àqueles testes de farmácia, cujo resultado eu comprovei, não uma só vez, que estava errado.

Bummmm! A possibilidade de dar uma pontinha de esperança para aquelas pobres crianças. Lá fui eu contar um caso verídico, que havia acontecido comigo, há alguns anos atrás. E que comprovava que estes testes nada têm de confiáveis.

Ufaa! Acho que consegui aliviar um pouco a tensão daquela sala. Mais uma ou duas histórias e já poderemos rir de tudo isso que passou. Mas não foi, assim, tão simples.

Passado o momento de alívio, aquele terror voltou a tomar conta dos olhos dela e a possibilidade de estar grávida foi aguçada por uma imagem de bebê que passava na televisão ligada na sala.

Posso dizer, que sou a favor dos meios de comunicação, mas que naquela hora tive vontade de jogar aquele aparelho com todos os seus GRPs pela janela.

Todo àquele meu esforço ia por água a baixo. E minha irmã, tomada pelos acontecimentos, começa inclusive a sentir enjôos.

Pensei comigo: e agora? O que é que eu faço?

Mais uma vez, pensei na comida para resolver o nosso problema. Pelo menos momentaneamente.

Então, fui até a cozinha e coloquei água no fogo para preparar um macarrão. Afinal, todos tínhamos que comer mesmo. E eu mais ainda, porque quando fico nervosa como até explodir.

Preparar a comida me ajudou a refletir um pouco e colocar para fora algumas palavras que ajudaram minha irmã a relaxar.

De barriga cheia era outra coisa. Podíamos conversar um pouco mais aliviados e, até minha irmã, parecia estar aceitando melhor a situação.

No final da conversa, estávamos todos quase que contentes e felizes. Prontos para aceitar entre nós, mais um membro da família.

Por um minuto, minha irmã sentiu-se mãe. Pude até ver em seus olhos aquele brilho típico das mulheres que engravidam. Pude até enxergá-la como mulher.

Após aqueles minutos de pura contemplação, minha irmã pediu licença para ir ao banheiro.

Nós: eu, o namorado e o amigo fiel continuamos na sala, gozando daquela sensação de prazer e felicidade, quando quase como um raio minha irmã volta à sala, com uma cara de constrangimento, que eu jamais tinha visto.

Ela parou no meio de nós, olhou no fundo dos olhos de cada um e disse: Desceu! Eu acabei de ficar menstroada!

E foi assim, que por um curto momento apenas, eu passei de irmã mais velha à titia.

E, aqui entre nós, posso dizer. Por enquanto, prefiro a primeira denominação.

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