Paralisam-se meus dedos,
Nesta hora de escrever:
São fortíssimos os medos,
Ao cumprir o meu dever.
É que usei demais na Terra
Caprichosamente os termos.
Quem não pensa muito erra:
Fui curtir males nos ermos.
Hoje volto penitente,
Temeroso do porvir.
Tenho de falar à gente
P ra poder evoluir.
Não pretendo ser perfeito,
Posto queira ser bem útil.
Coração bate no peito,
Com medo de tema fútil.
Vou dizer, então, a todos
Que se cuidem todo dia:
Se lírios nascem nos lodos,
Na dor, a fé brotaria.
Sinto fraca a inspiração,
Mas pude dar um recado.
Foi dado de coração.
A todos, muito obrigado!
Outro tema, finalmente,
Poderei inda escrever.
Vamos ver como é que sente
Quem deseja bem-querer.
Quero ser reconhecido,
Mas não posso declarar
O carma que hei vivido
Nos balcões daquele bar.
Quase sempre os meus amigos
Desconfiam do escrevente,
Que enfrenta grandes perigos,
Para atender toda a gente.
Imaginem que comigo
Não foi nada diferente:
O balcão não foi abrigo
Para um freguês descontente.
Não quis pagar a despesa
Das bebidas que tomou.
Foi grande minha surpresa,
Quando o danado atirou.
Foi um tiro bem certeiro
Que minha vida levou,
Colocando um paradeiro
Nos sonhos de quem matou.
Tinha o sujeito família,
Porém, foi preso em flagrante.
Venderam toda a mobília,
Mas a paz não se garante.
No começo, até pensei
Que foi bem feito p ra ele.
Porém, reconsiderei,
Ficando com pena dele.
Foi aí que descobri
A tarefa redentora:
Se estou bem agora aqui,
É que a meta esse bem fora.
Mas nunca pensei em mim,
Só noutros seres humanos.;
Às dores busquei dar fim,
Explicando os seus enganos.
Trabalhei com muito ardor,
Não dei folga p ro cansaço,
Pois quem quer ser protetor
Tem de ter nervos de aço.
Meu amigo vive ainda,
Mas já prescinde de mim,
Embora seja bem-vinda
A vibração não ruim.
Tento passar aos leitores
Os esforços dos meus atos.
Meus quadros têm poucas cores,
São pálidos meus relatos.
Sei não estar conseguindo
Obra alguma de valor,
Embora eu ache bem lindo
O verso que fiz co amor.
Penso que estes meus leitores
Sejam almas bem comuns,
Às voltas co as mesmas dores
Que sufocaram alguns.
Por isso, não me preocupo
Em dar-lhes uma obra d arte:
Se sofrer algum apupo,
Não virá de toda parte.
Se foi com dificuldade
Que acenei com estes versos,
Saibam da felicidade
Por não serem controversos.
Não quis pecar por ação,
Conforme disse de início.;
E não foi por omissão
Que incentivei algum vício.
Agradeço ao escrevente
Ter-me aturado bastante.
Tenha Deus pena da gente,
Permita seguir avante.
Faço, portanto, esta quadra
Somente p ra terminar:
Quero ver se nela enquadra
Este exercício de amar.
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