Conheci um bom amigo
Que bebia por prazer,
Mas tinha um grande inimigo:
Suas horas de lazer.
Aproveitava os momentos
Em que folgava na vida
Para alguns golinhos lentos:
— “Não fará mal a bebida!”
Eis que, então, se aposentou
E os momentos tão fugazes,
Em que não se embriagou,
Tornaram-se mais vorazes.
Toda hora era motivo
Para uns goles de cachaça.;
Já não tinha objetivo:
Achava a vida sem graça.
Assim morreu meu amigo
De fatal cirrose hepática:
Jamais se pôs ao abrigo
Da cachacinha simpática.
E eu pensei aqui comigo:
— “Que fiz de tão importante
Que deixei morrer o amigo,
Bem ali de mim diante?...”
Hoje curto um bom remorso,
Pois me vi arrependido
Por dizer: — Jamais eu forço
Quem está tão resolvido...””
Se pequei por omissão,
Foi bem forte a minha culpa:
A mim cabia a missão
De frustrar-lhe a má desculpa.
No entanto, titubeei,
Não fui firme na Doutrina:
Conhecia e não falei
Qual seria a sua sina.
Este parêntese eu abro,
Pois é grosso o descalabro
De quem sabe e não pratica.
Está o amigo ao meu lado,
Vivendo muito ansiado,
Buscando da pinga a bica.
Assumi o compromisso,
À custa do próprio viço,
De manter-lhe a rédea curta.;
Já não lhe faltam conselhos
Tirados dos Evangelhos:
Espero que algum bem surta.
Em breve, irá reencarnar.
Deverei acompanhar
As peripécias da luta,
E, ao dar-lhe proteção,
Estenderei minha ação
A quem usar força bruta.
Falhei, clamorosamente,
Ao pensar, inutilmente,
Em responsabilidade.;
Se o arbítrio livre era,
Não se compreende essa espera
De exercer minha vontade.
Tomei hoje a decisão,
Com amor no coração,
De vencer a minha lida.;
Mais tarde, irei, certamente,
Constatar-me bem mais crente
Da ajuda na minha vida.
O ciclo, assim, se completa,
Se o meu amigo não veta
A minha resolução.;
É o que, insistente, lhe explico,
Pois deve fechar o bico
P ra qualquer reclamação.
O que é feito por Jesus
A todos nós nos conduz
Na estrada da perfeição.;
Só é preciso paciência
E um pouquinho de ciência,
P ra lograr satisfação.
Nas ondas do socorrismo,
Tenho agora o meu batismo,
Embora me sinta cru.;
Mas, diante dos amigos
Envolvidos em perigos,
Não me importa estar tão nu.
Vou fazer quase o impossível,
Pois não julgo seja crível
Estar sozinho na luta.;
Se ofereço este meu manto,
Tão despojado de encanto,
É que sei que alguém me escuta.
Formemos uma corrente,
Unidos bem fortemente,
Nos fluidos universais.;
Desta forma, iremos ter
Um enorme bem-querer,
Que não se desfaz jamais.
Será tão bela a harmonia
Que as frases desta poesia
Alcançarão importância.
Cravos, rosas e jasmins
Darão cores aos jardins,
Em finíssimas fragrâncias.
Ao sabor da melodia,
Há de findar nosso dia,
Em plenitude de amor.;
Renascerá a esperança,
Na caridade que avança
Na fé de Nosso Senhor.
Hosanas vamos cantar,
Erguendo taças ao ar,
Cheias de pura ambrosia,
Pois jamais será pecado
Um gole santificado
Pela mais doce alegria.
São versos um tanto rudes,
Mas contêm boas virtudes:
São puros os sentimentos,
Pois, na busca da verdade,
Conta pouco essa vontade
De certos burilamentos.
Se é feliz nossa poesia,
Enchamo-nos de alegria,
Fique a perfeição de lado:
Se é imperfeita a nossa alma,
É fácil levar com calma
Tudo o que estiver errado.
Sendo assim, não há por que
Dizer que só crê quem vê
Os lampejos do sublime.;
P ra nós, qualquer coisa serve,
Tenha muita ou pouca verve:
Basta só que o termo rime.
Eis que, enfim, chegamos lá,
Deixe tudo como está,
Não sofra do coração.;
Se é bem simples a poesia,
Busque ver na melodia
Lampejos da perfeição.
Deus escreve bem direito
(Não haveria outro jeito),
Mesmo estando a linha torta.;
Se estes versos tão perversos
Atravessam universos,
Baterão à sua porta.
Vamos, então, bendizer,
Com enorme bem-querer,
A pequena produção.;
Se não temos grande voz,
Que se destine p ra nós,
Bem simples, um cantochão.
Querido amigo poeta,
Transformando-se em atleta
A disputar Olimpíada.;
Sinta-se no Paraíso:
Se você tiver juízo,
Verá nisto uma “Ilíada”.
É hora da despedida,
Nossa meta está cumprida.
Graças a Nosso Senhor,
Que deu luzes aos bestuntos
Que aqui trabalharam juntos,
Com fé, paz e muito amor.
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