NÃO HÁ PERFEIÇÃO: SÓ VIDA

13 de julho de 2023

I

A frase que serve de título a este artigo é de Milan Kundera (1929-2023), escritor tcheco, que acaba de falecer aos 94 anos. 

Contemporâneo da dominação do partido comunista dos tempos de Stalin e de seus sucessores soviéticos, Kundera pagou inicialmente seu tributo a essa ideologia imposta em seu país, a Tchecoslováquia, presa dentro da "cortina de ferro", expressão que o Ocidente democrático criou para designar o domínio ditatorial ideológico e político imposto pela União Soviética aos seus satélites do Leste Europeu.

Kundera cresceu e viveu sob o regime ditatorial comunista antes de sua emigração para a França em 1975. Oriundo de uma família de classe média, filho de um musicólogo de talento, dedicou-se à escrita literária desde cedo.

Viveu a aura do pensamento existencialista defendido por Sartre e da filosofia da existência de Heidegger.

Entre suas obras ganhou notoriedade "A insustentável leveza do ser" cuja narrativa se distribui por quatro histórias de amor. Nessas histórias os personagens  têm de "lidar com as consequências de suas escolhas" e "com o impacto dos acontecimentos políticos".

A crítica sublinha como característica importante das obras de Kundera - grande parte delas produzida no exílio em França-, terem sido escritas dentro da atmosfera existencialista que se viveu e respirou em França durante as décadas que antecederam e sucederam à II Grande Guerra Mundial(1939-1945).

II

"Não há perfeição. Só Vida."

Comentário de Jan Muá

Como comentário a este pensamento de Milan Kundera (1929-2023) cumpre observar que a vida em nós transita através do tempo e do espaço.

No fluir do tempo, a vida, inerente a todos os seres que dela participam, são atingidos, influenciados, transformados, impedidos e afetados pelo tempo e pelo espaço. E também pelo meio social ambiente.

A busca de uma vida melhor supõe ambição, desejo, planos, aplicação e aspiração a um estádio posterior que idealize melhorias em relação ao momento presente.

O desejo de uma "vida melhor" opera normalmente frente a um modelo.

O ser humano tenta introduzir seus modelos de vida no plano da existência. 

Querer ser melhor é "aspirar à perfeição". Qurer melhorar é um desejo inerente ao ppróprio existir.

É um sinal de vida, de muita vida.

Antecipadamente, a sabedoria das nações ensina que nenhum ser humano chegará ao estado "ideal" de perfeição.

Mas isto não anula seu desejo permanente de querer mais e querer o melhor.

No plano biológico, com base em seu arquétipo, poderá atingir um estado de plenitude biológica relativa.

Para o homem,  especificamente, sempre haverá novos espaços a preencher.

Sua grande limitação estará no campo psicológico, no campo da percepção e do conhecimento.

A demanda humana pode ser profunda. Pode atingir grandes projetos. Projetos até de navegação e conhecimento cósmico como já está ocorrendo.

Mas o ser humano se medirá, a todo o momento, por seus limites.

É com eles que terá de viver e trabalhar.

Aliás, limites de muita grandeza!

Jan Muá

13 de julho de 2023