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Artigos-->Entrevista de L. C. Vinholes a Valério Fiel da Costa -- 18/06/2023 - 12:27 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

 

ENTREVISTA DE L. C. VINHOLES A VALÉRIO FIEL DA COSTA

poemas-painel – olhos e bocas – poema coletivo

L. C. Vinholes

O compositor Valério Fiel da Costa, discorrendo sobre Processos Criativos na Música Aleatória e Indeterminada Brasileira, procurando “definir melhor o termo indeterminação em música” buscando substituí-lo por imprecisão, depois de analisar “a natureza da obra musical, seus limites, o efeito da ação de agentes sobre aspectos morfológicos, sua existência espaço-temporal, sua natureza sistêmica, para tentar definir de forma precisa o estatuto da indeterminação na música”, refletindo sobre as obras de compositores tais como Gilberto Mendes, John Cage, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen e sobre o pensamento de Renato Rocha Lieber, Martin Iddon, Niklas Luhmann faz a seguinte afirmação:

 

“Cito como obra fundamental para ilustrar tais idéias, um dos dois poemas-painel do compositor e poeta L. C. Vinholes, concebidos originalmente como poemas visuais para serem expostos durante a XII Exposição do Grupo TAO, em Osaka, Japão, em 1967. Trata-se de “olhos”, um painel de 1m2 composto de recortes de olhos aleatoriamente dispostos no vazio em torno da figura central de um “I” (“eu” e “olho” na pronúncia inglesa). O outro é “bocas” com a figura de um prato vazio (lembrando nada para comer) cercado de bocas. Tais poemas-painel foram retomados posteriormente, com o nome de Arquipélago, para figurarem como expressões da idéia de mobilidade espaço-temporal de uma obra. Durante o Festival da Palavra em Veneza, em 1997, pediu ao público que elaborasse títulos para o poema-painel “olhos” usando a página em branco do catálogo do Festival a ele reservada. Uma vez preenchida, ele as recolheu e com os títulos compôs/escreveu em uma tela um poema mesóstico com a palavra olho como coluna central. Depois devolveu-lhes os catálogos e as pessoas foram embora para suas casas, países e obrigações. Tal evento poderia ser visto como um caso simples de composição efêmera e coletiva tipo happening, em que os objetos são consumidos no processo deixando de existir. Entretanto o compositor, ao invés disso, propôs que se refletisse sobre o que aconteceria com aqueles catálogos dali em diante, sugerindo que a obra entrara num novo regime de desenvolvimento espaço-temporal impossível de ser mapeado. Nas palavras do próprio compositor em entrevista concedida a mim em julho de 2005 em sua casa em Brasília”:

 

Esses catálogos estão indo embora e o espaço ocupado pelo trabalho feito se dilata. Esses catálogos vão durar até quando? Alguns vão ser destruídos, outros vão ser queimados... vai ser minimizado o tamanho do trabalho feito. Nisso aí existe autoria, nisso aí existe coisa feita, nisso aí existe espaço para a coisa feita, mas ninguém tem idéia do que é, onde está e por quanto tempo (Vinholes: 01/07/2005). 

 

Valério continua: “Os catálogos entraram num regime de dispersão sem retorno fazendo com que aquilo que havia sido construído enquanto obra em um determinado momento, não parasse de desenvolver-se, de adquirir novas formas, e de perder elementos em função do desgaste do tempo e demais agentes externos. Ainda Vinholes, em texto escrito por ocasião de uma performance em Milão”:  

 

É um “trabalho” que dá continuidade e amplia o pretendido em Osaka (1967) no qual o público, dando títulos aos meus poemas-painel “boca” e “olho”, colaborou na criação de uma obra poética de produção coletiva. Em Milão, os títulos foram registrados na página que me foi reservada no catálogo distribuído durante o Festival e que, propositadamente, deixei em branco. O que resulta dessa experiência não tem registro gráfico unificado, ocupa espaços em lugares determinados, mas desconhecidos; cria forma que, por razões as mais diversas, se metamorfoseia à medida em que o tempo passa e as circunstâncias mudam; se dissemina por razões que nunca serão conhecidas; tende a desaparecer à medida em que as páginas do catálogo ou o próprio catálogo desaparecerem; e seu término de existência nunca será fixado nem mesmo pelos que participaram de sua criação. (Vinholes).

 

Valério conclui: “Quando ouvimos uma peça não a transportamos conosco, operando um processo semelhante ao que foi desencadeado em Veneza? Cada ouvinte levaria para casa sua sinfonia de Mozart ressoando na cabeça e esta sofreria uma deterioração gradual em função do tempo e da memória. Teríamos que reconhecer a obra como um processo mais complexo do que suspeitávamos de início: como algo mais à deriva do que propriamente ancorado à alguma referência sólida. A obra, em toda a sua plenitude, sobreviveria apenas durante os momentos em que soasse diante de uma audiência, para depois dispersar-se aqui e ali como fumaça na mente dos ouvintes eventuais. Tal qual Vinholes questionara sobre seu poema-painel "olhos", deveríamos nos perguntar "onde se encontra neste momento a Sinfonia 41 de Mozart?". A obra musical goza de uma existência espaço-temporal”.

 

 

 

 

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