Quem sabe se, cansado dos sentimentais e inevitáveis apertos da vida, tenha concluído que fugir para longe lhe permitiria um resto de existência bem mais gozada?!
Filhos adultos, noras, netos, tudo à volta, o mesmo processo de sempre. "Arre... Estou farto disto!"...E o oportuno prenúncio apareceu, todo samba, todo brasileiro, nos olhos e no corpo de atraente promessa, 26 anos de sonho... De Deus ou do Diabo. Então propôs: "Verónica... Vamos casar?"... "Vamos... Meu querido!".
Casaram. Ele vendeu a empresa de construção civil que possuía, fizeram as malas e foram de sonho em asa para a terra dela, o magnífico Brasil.
Em Fortaleza, paradisíaco sítio com sol promissor, o novo casal montou casa e negócio. Todo tomado de amor por sua dama ergueu a "Mercantil Verónica". Que bom, ganhavam a vida lado a lado, comiam e bebiam lado a lado, passeavam e divertiam-se lado a lado, fodiam quanto queriam lado a lado, por baixo, por cima, ena, há cerca de dois anos... A vida é bela, pois é?!
Cerca das 19 horas do ido 23 de Junho o imprevisto veio a público: José Alves da Costa, de 56 anos, português ou portuga, foi encontrado morto na sua residência, amordaçado, amarrado pelas mãos e pelos pès, estendido em seu leito, covardemente assassinado pelos ventos da ambição predadora que assolam como nunca o Brasil.
Verónica, pernambucana e 28 anos mais nova, escapou, amarrada com fio eléctrico e encerrada no banheiro. Uma perícia médica atesta que terá levado umas mocadas na cabeça. Os assassinos, até aqui desconhecidos, remexeram a casa toda e roubaram o que lhes aprouve.
O médico legista que autopsiou o José escreveu na certidão de óbito: "Morte natural". Horas mais tarde, instado pelos jornalistas sob a aparente contradição dos factos, argumentou: "Ele pode ter morrido com medo dos assaltantes...".
No magnífico Brasil, entre o muito belo e o muito feio, passam-se deveras coisas muitíssimo estranhas aquém e além dos mortos. Só no Brasil?!... Em Portugal, em toda a parte se passam coisas do "arco da velha e do velho"...
Agora, que nada há a fazer, pelo menos, José, deixa-te estar que estás bem... Para sempre... Bem! Todavia, há tanta gente a pensar que estás mal... Se calhar nem constatam que deste uma bela fodinha antes de partir para o eterno... Deste, José?!...
Torre da Guia
|