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Poesias-->A BUNDA -- 18/12/2003 - 14:30 (Ricardo França de Gusmão) |
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Os olhos do rapaz
acompanham a bunda
da moça que absorta caminha
sozinha, sem alarde,
no passeio público.
Ela provoca, faz cara de tadinha,
e faz que ajeita o elástico
da calcinha.
Perto dali, e menos atento,
o esteticista passa creme
na bunda gordurosa
da madame menos formosa
que geme.
O artigo no jornal
garante
que a região glútea da adolescente vitaminada
é um avanço da estética corporal.
Sua referida bunda
desafia
os aparelhos cardiovasculares
dos homens com mais de 60 anos.
Os velhinhos fazem planos
recordam os tempos de estrada
e tomam Viagra.
A bunda da modelo
nua em pêlo
desfila na passarela
tanga verde-limão
que fará moda no verão.
Todos verão
e usarão.
Assistindo o cotidiano torto
o bêbado arrisca uma filosofada:
Toda bunda pública
um dia foi uma bunda privada.
Tem gente que gosta de explorar a bunda
e ganha dinheiro com ela.
O sucesso da bunda comercial
depende da cotação do mercado
e de sua desenvoltura.
Eu, pessoalmente, não tenho nádegas contra isso.
Ninguém gosta de bunda sugismunda.
Porém, não há bunda totalmente limpa.
Pelo menos, o tempo todo.
(Peço as devidas desculpas
ao bom estilo de texto
pelo mau cheiro literário dessa constatação).
De acordo com a tendência popular
a bunda reta
é politicamente incorreta.
A Raimunda sim,
tem o padrão da bunda ideal
e goza de unanimidade.
A Raimunda é muito elogiada.
Já a Romilda
ficou com a bunda difamada
depois de uma transação
por debaixo dos panos.
Eu não vi,
mas é o que o povo fala por aí.
Quem vê bunda não vê coração.
E isso não é uma questão de romantismo.
Simplesmente o coração está do lado de dentro
enquanto a bunda está do lado de fora.
Em acidentes de trânsito graves
existem exceções
e pode ocorrer o contrário.
Mas a bunda, apesar de sua popularidade,
não dura muito tempo
assim como o resto do corpo.
Quando a bunda morre enche de saudade
e de desgosto
a rapaziada da esquina
por onde ela costumava passar.
Um dia
restará apenas o retrato da bunda,
a filmagem em 8 milímetros da bunda,
a almofada onde a bunda sentava
e mais nada.
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