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Contos-->A versão opaca -- 20/06/2003 - 14:19 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O pasto brilhava de fervor:
_ Irmãos, a nossa igreja representa a salvação dos homens no mundo. Sim, pois só ela traz a representação máxima do exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos os apóstolos modernos do Cristo, aqueles, que como Pedro, acolherão os desvalidos, curando suas feridas com o Evangelho.
Não dava para desprender do homem, tamanha fé. A igrejinha estava sufocada, lotação máxima naquela manhã de domingo. O sol à pino ajudava tornar o ambiente insuportável. Mas ninguém arredava o pé, concentrados nos sábios ensinamentos do pastor.
Após um gole de água, benta, o pastor prosseguiu:
_ A Casa do Caminho está aqui! Acolheremos sob o véu bíblico e faremos desta casa um local onde os abandonados do mundo terão seu refúgio. Clamemos ao Pai: Glória a Deus!
Um corro gritou a plenos pulmões “Glória a Deus!” Quem passava pela rua encantava-se com aquela religião. Homens puros e impuros, principalmente os impuros, sentiam uma alegria interior inexplicável, uma sensação de que o Cristo ali pregado olhava por eles. O fato de no final o Pastor ter lembrado aos fiéis da importância do pagamento pontual do dizimo, pareceu perfeitamente natural, afinal a manutenção daquele homem santo e da igreja precisava ser alcançada a todo custo. Rompendo em fé dezenas de reais foram para a urna, como se fazia toda a semana. Mesas, cadeiras, botijões de gás, roupas usadas, empréstimos..., tudo transformado em dinheiro, inerte diante dos olhos brilhantes do homem santo.
_ É assim que se professa a fé, irmãos! O que hoje depositam para Jesus será devolvido em dobro, aos cêntuplos, como está escrito. Não se prendam aos bens materiais, tudo pertence a Deus; veio de Deus e a Deus retornará. Nosso único objetivo nesta terra é servir ao Senhor Jesus.
Por sorte passava diante da igreja um dos objetos de toda aquela manifestação. Ouvira as palavras doces do Pastor e sorriu, pois tinha encontrado o local onde o acolheriam e dividiriam a esmola com ele. Não teve dúvidas, entrou.
A rua faz com um homem estragos enormes. Poucas roupas, ou roupa nenhuma, banhos de chuva, cama de praça; transformam a aparência, fazendo-se notado diante dos civilizados, mesmo que pelos farrapos e mau cheiro.
Assim estava nosso sortudo: em frangalhos. Todos perceberam sua entrada tímida na igreja, como tímidos são os da classe, querendo esconder-se na sombra, envergonhado de sua condição. João, assim o chamaremos, adentrou na Casa do Senhor. Uma lágrima, mais tímida ainda, rolava pelo seu rosto sujo, iluminado pela perspectiva de finalmente encher a barriga.
Vejam que glória! A oportunidade apareceu. Lá estava um indivíduo abandonado pelos homens, legítimo herdeiro das graças propostas pela casa. Todos se voltaram para o enviado num silêncio gelado. A prática seria a consolidação da fé, o fervor transformado em ato que levaria aquelas almas para as graças do Senhor.
Mas, tinha um mas. Mas que cheiro; mas que sujeira; mas iria se perder tempo; mas não dava pra tirar dinheiro das obras; mas quem cuidaria do mendigo; mas se ajudassem ele, viriam outros; mas, mas e mas.
Imediatamente o homem santo tomou a palavra afim de resolver o impasse ocasionado pela inesperada presença do estranho. Todos os presentes aguardavam sua intervenção, estavam se incomodando com... ele. O pagamento correto dos dízimos os poupava de prática efetiva da caridade. Além da contribuição financeira, tinha ainda as preces diárias que faziam por estes desvalidos – era acréscimo de bondade. Nada mais era necessário, afinal Jesus cuidaria dos males do mundo. Para isso que se orava tanto, para não ter de enfrentar o trabalho. Sim, o Pastor sabia como conciliar a fé e a transformação dela em ação. Mesmo com uma ponta de remorso, os presentes viam Jesus no meio do povo, com seus apóstolos curando as chagas do miseráveis. Naquela situação o Mestre tomaria o mendigo pelo braço e cuidaria de todas as mazelas deste. Outros tempos. Jesus era Jesus; Pedro era Pedro. Outros homens, outros tempos.
_ Irmãos mantenham-se atentos às Escrituras. Cantemos o hino de louvor número cinco: “Senhor, aumente minha fé! Receba minha oferta de louvor...”
Enquanto isso, em cântico, o Pastor conduziu o esperançoso mendigo para o seu lugar, não sem antes lhe estender um moeda de um real, majestoso sacrifício às obras da igreja.
A igreja cumpria seu papel atual
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