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Poesias-->VIDA DE CÃO -- 17/12/2003 - 14:59 (Ricardo França de Gusmão) |
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Corre a hora
passa o tempo
vai e volta
e não se nota
em nossa volta
qualquer coisa
que realça
e não desbota
de verdade
na cidade
iluminada
maltratada
amedrontada
assaltada
assassinada
e controlada
pela LEI,
que prende e solta
na anedota
que tapeia
a vida alheia
sofredora
que faz feira
e passa fome
e perde o bonde
e chega tarde
no trabalho
já cansado
esgotado
acabado
tapeado
embriagado
amordaçado
já sem força
pra gritar...
E passa o dia
aumenta a fome,
vem domingo
"futebol!"
o gol não sai
o time perde
o sonho vai
o grito fica
a vida irrita
o corpo dói,
aumenta o pão
a gasolina
a aspirina
a cachaça
a inflação!
Tenta fé
na loteria
12 pontos
numa zebra
o juiz
que é ladrão!
Guarda o diploma
na gaveta
tenta a sorte
na esteira
vende figa
de madeira
faz dieta
de cachaça
pois cerveja
é um assalto!
Não te liga
e grita alto
na geral
lá no Planalto,
põe a culpa
no Governo,
no fulano
no Funaro,
no IBOPE
do pacote
e do bigode
do Sarney!
Faz discurso
num caixote
põe crachá
de pixote
se candidata
a maluco
lá no Centro
da cidade,
quebra o pau
cai na porrada
diz que a esquerda
é marmelada,
diz pro povo
que a jogada
é mudar
de camarada!
Os " caras" vêm
e tu vai preso,
aproveita
e leva junto
a filharada
a amada
a cambada
a garrafa
a empregada
e mata a fome
na cadeia,
se esconde
do patrão
desesperado
esbugalhado
atrapalhado
já cansado
de você!
Se não bastar
entra na moda,
raspa a perna
e fala fino,
faz como manda
o figurino,
vira gay
dá navalhada
dá chilique
na boutique,
avacalha
desmunheca,
põe peruca
pra tapar
essa careca,
e no embalo
da boneca
muda o nome
pra Roberta,
talvez Leila
Floresbela
Marieta
ou Gabriela...
Depois se mata
com um tiro
um suicídio
divertido
escandaloso
corajoso
quase igual
a dor de corno,
e não demora
não enrola
olha a hora
vai embora
desse mundo,
e já vai tarde
vagabundo,
mas antes disso
cava a terra
e se enterra
pois é caro
um velório
para um pobre
sem IBOPE
sem bigode
e sem herança.
Vai com Deus
não leva nada
pois pra gente
aqui faz falta,
e depois
além de tudo
um defunto
tapeado
azarado
e abicharado,
no inferno
é dispensado,
reencarna
o coitado,
e novamente
desarranja
acaba canja
omelete
sai pivete
e logo inverte
vira Bete
desencapa
e se dá mal...
Ricardo França
Rio/1985
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