O que somos, senão,
uma ossada ambulante
vestida de carnal casaco
ambundante
e tripa
enrolada no interior
da barriga de pele
lisa ?
O que somos, senão,
desejo de carne
enfurecida
seja no amor, no sexo,
na amargura
e na
briga ?
E no rosto,
o rasgo imenso que temos
e chamamos de boca,
toca da coisa mais feia ainda,
pedaço mole de carne
que chamamos
de língua ?
Sem falar na exagerada
elevação
que no meio da face
dispensa apresentação.
Já repararam
O que somos, senão, pensamento
em póstuma homenagem ?
Pois se tudo
a morte desmancha
resta a palavra em última análise.
Palavra derradeiro resgate
para quem veste a roupa carne
e ingressa nessa viagem.
A de enriquecer em vida
a vida humana
com bonita bagagem...
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