Manhã, vento, brisa cáspita.
Vem velho trovão, gritar em minha manhã
Nublada
Rasgar o céu de Teresópolis,
Cidade do bicheiro prefeito e síndico do povo daqui.
Vem ralhar com os meninos que não estudam
Para matar as aulas nas cachoeiras do município
Que ensinam mais de natureza e de paz
Do que a professora do segundo ano ginasial.
Vem trovão, com seu poder não discuto,
Me escondo da faísca furiosa
E engaveto os meus requerimentos
Ao Senhor Criador seu Chefe. (25/10/2000)
Acordei de manhã com a mulher do lado
E um prenúncio de casamento circundava a minha cama.
Amar, amor, só diz quem ama
E eu não amo o mundo que me sacaneia.
Tua boca é do mundo, tuas coxas são do mundo,
Tua vagina sentimental é do mundo
E tua bundinha tão fofinha também é deste mundo fera.
Não está em julgamento se essa fulana é bonita ou é feia,
Não casarei nesta manhã nem com a Sebastiana, nem com a Joana nem com a Vera.
Moro apenas com os fantasmas delas.
São mulheres que passaram pela minha vida
E deixaram um pouco de si no meu aperfeiçoamento.
No café da manhã sirvo à todas o perfume do incenso
E impregno com cheiro de rosas o apartamento. (15/11/2000)
Noite descortinada. Manhã.
Preparo-me para enfrentar a vida,
A fera do destino que me espera.
Tenho que ter cuidado ao abrir a porta,
Desviar da bala perdida,
Dizer “bom dia” para o ladrão,
Separar o dinheiro da passagem,
Pagar o seguro de vida,
Viver
Viver
Viver
E para viver preciso ter conhecimento científico da vida,
Entender o computador
Manipular controle remoto
Tomar cuidado com o marketing
Tomar antibiótico, injetar antivirótico,
Passar água oxigenada na ferida aberta
Do amadurecimento. (29/11/2000)
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