Caçar palavras é o ofício do poeta.
Ele faz isso sem espingarda, mas com astúcia.
Se o bicho-palavra é atingido, na certa,
haverá carne de poesia na mesa farta.
Espreita o caçador a palavra exata, de pelúcia,
silenciosamente, para não espantar a caça.
Desse alimento depende uma tribo inteira.
Roncam as barrigas com fome de espírito
enquanto os seres da imaginação
batem com varetas nas madeiras.
Para caçar as palavras mais raras, sensacionais,
o poeta usa a armadilha da estilística.
A técnica abusa da engenharia metrificada.
Os versos abatidos têm vitaminas poderosas
e perfumam o ar com o cheiro doce das rosas.
Não há dor entre o caçador e a caça.
Não há rancor no bicho-palavra, no que fica,
de sua carcaça.
Tudo é alimento, proteína e transformação.
Não haverá cabeça como troféu, pendurada na parede.
Não haverá pele estirada na sala como tapete.
O bicho-palavra ficará vivo, domesticado,
encadernado mas livre, no ventre de um livro,
liberto da prisão cruel do dicionário.
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