Caço um tema para o poema que germina.
Mas o tema me foge ausente, incipiente
Para longe da minha aura que inclina
A procura da semente, verve lavrada
Nos campos brancos das folhas secas
Palavra propriedade privada
Palavra cidade composta: polvo de letras.
Mas qual o tema? Não faço cinema,
Construo poesia, tentáculos de imagens
Que abraçam verbos, paisagens, ritmo
Desmetrificado
Na trincheira da criação
Sou palavra, sou canção, sou poeta e sou soldado.
Quando o verso não vem, me sinto só,
Sem ninguém, fico triste, fico bravo.
Necessito, então, de olhar para ela.
A moça da fotografia, musa da minha alegria,
Inspiração desnuda
Semente de poesia, broto, muda,
Mulher-inspiração destinada a ser árvore
Da minha imaginação
Ou quem sabe branca ave
A alçar vôos nos sonhos
Que sonho acordado.
Portanto caço.
Caço um tema para o poema que germina.
Caço com laço no Paço Imperial
Um raro animal em extinção: a rima!
Para fazer um poema de oito braços
E multiplicar os abraços
Missão do artista e sua sina.
Poesia, poema, polvo, povo, multidão.
É preciso poesia para todos,
Dar de beber para todos,
Dar de comer para todos,
Dar amor e educação,
Por isso caço.
Caço um tema revolucionário
Consulto as páginas da enciclopédia, do dicionário,
Para reescrever o mundo maravilhoso
E recitá-lo aos ventos no sétimo dia.
Caço um poema sereno, gostoso,
Com a benção da Ave Maria.
|