15 usuários online |
| |
|
Poesias-->EPILOGOSOS MOMENTOS DA TRAJETÓRIA DE GUMERCINDO -- 17/12/2003 - 13:23 (Ricardo França de Gusmão) |
|
|
| |
EPILOGOSOS MOMENTOS
DA TRAJETÓRIA DE GUMERCINDO
EM SUA TRAGEDIESTÓRIA
Hemisférios de imagens repartem
a lápide de sua palavra última.
Transeuntes caminham sobre os botões
de sua camisa seda, sobre o seu peito dilacerado
por um tiro de pistola 765.
Baratas roem seu cinto (ele detestava baratas)
quando metade de seu rim cai para fora do corpo
rolando a calçada e caindo no esgoto.
Ratos mortos de fome rejeitam o seu rim ruim.
Seus olhos azuis vermelhos-vazados
em branca superfície rendem homenagem
aos duzentos anos da revolução francesa.
Mas ele tinha uma amante mulata escandalosa
que esbofeteou-lhe a cara com uma rosa
e chorosa disse-lhe:
- Por que você morreu, filho da puta ?
O cadáver (ainda bem) nada respondeu pois era mudo.
Ela depositou-lhe um beijo na testa destampada
e foi sambando (coitada) desabafar com o amante.
Permaneceu sozinho acrescentando-se ao design
das parcelas esquecidas
quando foi encontrado por um grupo de estudantes de medicina
(nem a morte interrompeu a sua sina).
Foi então levado para a aula de anatomia:
-Não ria! - Dizia o professor Eusébio à sua pupila Maria
ao ver que ela se comprazia com o popô do Gumercindo
(assim fora apelidado)
listrado com as cores do arco-íris
(coisa de estudantes irreverentes).
Metade de seu corpo foi dissecado,e outra, conservada em formol.
Não teve seu nome no rol
dos bandidos mais procurados (por muito tempo)
mas hoje freqüenta constantemente
o hall e os corredores do hospital universitário.
Consertaram todos os seus dentes cariados.
Hoje Gumercindo vive sorrindo: é um crânio regenerado...
|
|