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Contos-->Tarde na Praia -- 12/09/2000 - 18:15 (André Mellagi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TARDE NA PRAIA

Para Alexandre Anselmo e Maurício Guerreiro,
os ungidos em Bertioga.


O mar arrasta sua grinalda espumante até cobrir de areia meus pés estáticos, estas raízes que se reúnem neste estranho tronco de braços cruzados e óculos escuros. Por trás das nuvens a Grande Lanterna lança suas pétalas de espadas reluzentes sobre meus ombros, atingindo tudo de calor e dourado. Dois casais sob o guarda-sol assistem, com alguns bangalôs espalhados ao longo da praia, a longínqua linha da superfície do mar por onde despenca a ondulante calota. As águas mais adiante eram rasgadas pelas pequenas embarcações. Desprendo-me do chão e volto a minha caminhada com o sal suspenso sobre minha pele, catalisando seu enrijecimento com fogo como a qualquer obra de olaria. Agora sou mais uma criatura de barro ambulante em meio a crianças fugindo de mães exasperadas. A brisa afaga o peito ardente mas não arrefece a ebulição da febre que toma conta dos meus pensamentos.

Quanto tempo ainda restará para que débil porcelana agüente as geadas e mãos desastradas? Assim nos atiramos expostos às rachaduras da roda das desilusões; trocamos ingratidões pois raramente nosso desejo encontra destinatário que o aceite. A ampulheta também não é tolerante: aliada ao trágico, sempre está a ruir mais cedo ou mais tarde nossas inesgotáveis aspirações. Em farrapo transforma minha fantasia de histrião malabarista que percorre rindo a corda bamba. Minha caneta secou e meu único testemunho será dado por um homem gordo de curtas costeletas, que me flagrou vomitando num canteiro a alma viscosa e ácida.

Pois vislumbro a vitória nesta luta por meu reino fugaz! Ainda que a lenta erosão cave as rugas de meu rosto, corôo-me de lama e parto roendo areia entre os dentes. Santificarei a temporária agregação da matéria com aqueles que dançam sobre os anões da ignorância! Entrego-me ao destino mas com cuidado para com a obra do demiurgo. Não esquecerei as libações e compro as bênçãos de uma pedinte que me parou na rua. Minha salvação plana com o siar da revoada que desaparece atrás da montanha e guardo este enigma escrito no ar. O fardo está mais leve com meu olhar agraciado ao pedaço de peixe infestado de pequenos crustáceos. A vida prossegue sem intervalos nas trepadeiras que cobrem as construções abandonadas.

Degustarei a quantidade certa de azedume presente nos pratos exóticos. Abro-me à filosofia dos pescadores que buscam sua rede no final do dia, há um cosmos de diferentes seres que ainda respiram e se mexem afoitos. Sento-me onde possa fortificar meu castelo de areia, deixando que a vozes do mundo ecoem por entre minhas vísceras.

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