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Artigos-->A primeira vez que me chamaram de Doutor (pesp.hpg.com.br) -- 25/05/2002 - 22:10 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A primeira vez que me chamaram de Doutor (pesp.hpg.com.br)



P. Espinosa





Como já deve ter ficado claro para os poucos que lêem o que escrevo, tenho formação jurídica: o português levemente arcaizante e empoado, o nome de jurista americano. Como explico em minha página (http://www.pesp.hgp.com.br).



É bem verdade que nós, as hienas ridentes de minha faculdade, ríamos à larga nos primeiros anos de faculdade chamando-nos uns aos outros de doutor. Mas ironia não conta... Sarcasmo menos ainda...



Estava em meu primeiro emprego remunerado (sou de class média média), ainda não formado na faculdade, ainda não de bacharel ou de advogado, mas de informática, a grande devoradora de tempo e consciências.



De repente, na sala onde eu espremia meu senso de estratégia para criar softwares e ganhar uns trocados, a voz do cliente me diz ao telefone:



-- Dr., precisamos de um programa que faça isso e aquilo.



Soou muito estranho, pois eu já havia sido apresentado a esse cliente e já havia conversado com ele uma conversa informal. Porque me chamava de doutor? Ele nem ao menos sabia que eu estudava direito!



Neste momento, as dúvidas clássicas me voltaram à cabeça: por que um promissor futuro advogado, de tradicional escola, mete-se a trabalhar com essas coisas e pessoas estranhas chamadas computadores e usuários?



Respondi para mim mesmo:



-- Porque o jovem e promissor futuro advogado que está em faculdade tradicional ainda está no começo de seu belo curso e não terá ainda nenhuma vaga de estagiário em direito esperando por ele, a não ser que ele conte com um pistolão, uma indicação de seu pai (também da área jurídica) ou de algum amigo da família. Coisas que ele nunca fará!



Esse devaneio todo durou muito pouco tempo e logo eu estava perguntando ao cliente:



-- Dr.? Por que doutor?



O cliente, muito simpático respondeu:



-- Tudo bem, Espinosa? Não liga não. É que no Brasil todo mundo é doutor.



Eu não disse mais a esse respeito do que um lacônico:



-- Tá certo!



Além, é claro, da risada socialmente esperada.



E comecei a discutir os temas ligados ao trabalho que ele queria que eu fizesse.



Era um de meus primeiros conjuntos articulados de programas, o que chamamos de "sistemas" em informática. Ainda me lembro dele com orgulho. Apesar, é claro, que faria tudo diferente hoje, quando há outras ferramentas, outros conceitos e técnicas.



Naquele tempo o que me movia era a gana, a vontade. Eu não sabia, mas estava substituindo, a custo muito mais baixo, a geração anterior de desenvolvedores de software.



Eles tinham um tanto a mais de hierarquia (júnior, pleno, sênior) e de respeito ao texto do programa. Seus computadores eram muito mais caros. Assim como seus salários.



Tudo isso passa por minha cabeça quando ouço a palavra doutor, ou vejo sua abreviatura. Dr. Já vi intelectuais reclamando dela. Já vi juízes, promotores e advogados a exigindo. Eu passo pelo meio de todos eles, sem dizer que secretamente sou um doutro, mas que não faço a menor questão de ser chamado assim. Ou de não ser chamado assim.

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