Mendigos são os mesmos
A todo lado, a todo tempo
Cinzentos, rugosos, sujos
Farrapos, sacos, embrulhos
Barbudos, cabelos sem pente
Pés sem botinas, barbantes
Seguram seus trapos cujos
Rasgos exibem indecentes
Partes de um corpo podre
E podre é a alma vadia
Que ora ri, que ora chia
Seja noite, seja dia
Pra mendigo não tem hora
Não tem lugar, nem assento
Não tem cama, vive ao vento
Vive porque implora
A esmola é o sustento
Que segura as pernas ralas
Que cruzam com os passantes
Enojados que se afastam
Apressados, pois trabalham
Gente séria que despreza
Os loucos andantes errantes
Que sorriem, entretanto
Bocas feias, negras, ralas
Exibem-se provocantes
Mendigo sempre existiu
Sempre o vi, desde pequeno
Lá está um a cantar
Outro a rir, outro a pular
Um maluco a caminhar
E um outro só a falar
Mas nunca os vi chorar
Estão em todo lugar
Nas calçadas, nas escadas
Das igrejas maculadas
São loucos ou sábios são?
Seriam talvez uns anjos
Disfarçados são ou não?
Pra mostrar ali estão
Que são também miseráveis
Nossas vidas reles vidas
Que tocamos sem saber
Pra que servem nossas lidas
Que são também negras, sujas
Nossas almas egoístas
Agarradas a que, não sabem
Perdidas não sabem aonde
Guiadas por falsas metas
Movidas não sabem pr’onde
Mendigos são só o espelho
De nossas mentes malditas
Verdades de nossas mentiras
Dezembro de 2003
Daniel Carrano Albuquerque
E-mail: notdam@bol.com.br
|