Que Deus do Céu nos perdoe
Principiar deste jeito,
Mas não existe quem voe,
Sem um apoio perfeito.
Feita a nossa invocação,
Que nos traz tão assustado,
Bate forte o coração:
— “ Iremos ser inspirado?”
Com grande convicção,
Elegeremos o assunto:
Se o Senhor nos dá a mão,
O Universo não é muito.
Perfeita será a rima
E a estrutura deste verso,
O poema, uma obra-prima,
E o valor, incontroverso.
Entretanto, o desafio
Irá precisar de gente
Com coragem, força e brio,
Sagaz e muito experiente.
Eis aí a deficiência
Que tira o nosso sossego:
— “É preciso inteligência?
Eu perco este meu emprego...”
Além do mais, o escrevente
Fica apavorado à toa.;
Se é, por um lado, exigente,
Por outro, a alma não voa.
Exercito o meu direito
De definir a questão:
É com coragem no peito
Que se busca a perfeição.
Eis que temos, finalmente,
O verso que pretendíamos.;
Se for assustar a gente,
Era isso o que queríamos.
Não passa de brincadeira
O refrão que utilizamos.;
Noss’alma é muito “maneira”:
É com o amor que sonhamos.
Nesta vida atribulada
De farsas e desenganos,
É que vemos malparada
A passagem destes anos.
Os espíritos, no entanto,
Vêem muito diferente:
A dor é somente um manto
Que cobre a vista da gente
E que nos serve de prova
Do valor que se renova.
Se agimos com mais cuidado,
Ao demonstrar nossa tese,
É p ra dar ao encarnado
Uma ajuda que se preze.
Hoje em dia, temos medo
De expressar certas idéias:
Achamos que seja cedo
P ra extrair mel das colméias.
Mas é bom correr um risco,
Desde que bem calculado.;
Não é sempre que o corisco
Costuma cair do lado.
Prevenir os acidentes
É bom sinal de prudência.;
Se são os irmãos valentes,
Vão agir co inteligência.
O destemor é produto
Da afoiteza e intemperança.;
A valentia é conduto
Da fé, da paz, da esperança.
Vou contar-lhes um segredo
Que trago dentro do peito:
É que tenho muito medo
De faltar-lhes co o respeito.
Se, às vezes, faço gracinhas,
Se experimento um sorriso,
São graças pequenininhas
De quem tem algum juízo.
No Alto, não há mistérios
P ros espíritos de luz:
Se riem ou se estão sérios,
Vibram sempre com Jesus.
Nós, na Terra, infelizmente,
Ao perder o nosso siso,
Acreditamos que a gente
Vai perder o paraíso.
Mas é no inferno que os entes
Se debulham em seus prantos.;
Se se mostram sorridentes,
Ficam chorando nos cantos.
É forte o arrependimento
De quem agiu mal na vida:
Será maior o tormento,
Quanto mais a viu perdida.
Mas esta filosofia
Parece maniqueísta.;
Agir com sabedoria
Vai tornar-nos altruísta:
Nosso bem será o amor,
Como nos pede o Senhor.
Desfraldamos a bandeira
Da coragem e do amor:
É com alma altaneira,
Cheia de puro valor,
E com a mente faceira,
No coração, pundonor,
Que nos iremos postar
Do Senhor aos pés do altar.
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