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Artigos-->Qualidade de informação. Tema, problema e tese -- 22/05/2002 - 14:23 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Qualidade de informação. Tema, problema e tese.

(Este texto faz parte de monografia de conclusão de curso em jornalismo)



Marcelo Lima





O tema



O tema do trabalho está diretamente ligado à qualidade de informação entre os anos de 1989 e 1999.

Foi escolhido este período, devido uma lógica, que embora pareça simples, não o é, pois compreender a imprensa nos últimos anos, implica em fazermos observações à empresa de comunicação, sua história e sua posição na sociedade, no que diz respeito à postura política que comumente influencia na nossa cultura.

O marco inicial do projeto é 1989, ano de eleições. Após vinte e um anos de ditadura, a população finalmente votou para presidente. E, se foi um marco para a sociedade, foi também para a imprensa que, mais livre, acompanhou e participou do processo de implantação da democracia.

Já 1999 foi escolhido como ponto final do projeto, porque era o último ano da década e não porque representou na mídia, o último ano do milênio, que como sabemos, foi divulgado de maneira errada. Nossa intenção, portanto, não foi de fazer sensacionalismo.

O veículo de comunicação analisado não foi escolhido pelo grupo, e sim, através de uma pesquisa de opinião publica, onde foram apresentadas as principais empresas de comunicação, no rádio, na televisão, na imprensa escrita e a internet.

Após a tabulação dos dados, constatou-se que as pessoas sentiam-se melhor informadas pela televisão, em detrimento do rádio, jornal, revista e internet. Dentro da televisão, escolheram o Jornal Nacional, logo a Rede Globo, como a preferida.

As pessoas escolheram também um fato de cada ano, totalizando onze, que para elas foram os mais significativos.

Então, o trabalho trata deste assunto: analisar a ótica da Rede Globo sobre os fatos escolhidos pelo público, tendo como ponto de partida a primeira eleição direta para presidente no país e como ponto de chegada, o último ano da década. Procuramos desvendar se realmente o jornalismo da Rede Globo merece a confiança deposita pela grande maioria das pessoas.

Convém salientar que analisamos documentários produzidos por essa emissora sobre os respectivos temas escolhidos, e não o Jornal Nacional, já que o material do mesmo se encontra no CEDOC (Centro de Documentações) do Rio de Janeiro e fomos avisados que as fitas referentes, além da burocracia, não chegaria da outra cidade em tempo hábil para que puséssemos concluir o trabalho.

Mas o fato de trabalharmos com documentários, não diminui em nada o valor de nossa análise, já que também são produzidos com a mesma linha de pensamento jornalístico dessa empresa.





O problema



Não podemos observar analisar a imprensa, o que ela representa e oferece culturalmente para nossa sociedade sem levarmos em consideração que ela é uma empresa como qualquer outra.

Seria uma grande inocência acharmos que os veículos de comunicação são isentos como afirmam ser.

Embora sua matéria prima seja a informação e a postura recomendada a de critica, isso não acontece. Simplesmente porque seus proprietários têm interesses políticos e econômicos em jogo e muitas vezes esses fatores são determinantes se uma matéria será apurada ou não, ou que tratamento o repórter deverá dar a ela.

As empresas lutam por publicidade, sua principal fonte de renda, tem uma visão particular do mundo, que é passada a seus consumidores, mas mesmo assim usam a bandeira da crítica como lema, e após a ditadura, são tidas como os verdadeiros símbolos da democracia.

A imparcialidade no Brasil é empregada pelas grandes empresas de comunicação como merchandising. Todos se dizem objetivos, mas da mesma maneira "que se conta nos dedos de uma mão os empresários que não manipulam a informação neste país, com maior ou menor gravidade" (Cf. MATTIUSE, Dante. A imprensa em questão, p. 172), conta-se também nos dedos os que realmente o são, mas "não no sentido que seja possível ser, mas no sentido de que é ostensivamente partidário na cobertura, clara preferência por uma tendência política ou ideológica, distorção intencional dos fatos para favorecer uma visão particular do mundo" (Cf. SILVA, Carlos Eduardo Lins da. O adiantado da hora, p. 101).

Temos no país então dois discursos. O primeiro é o que diz que a imprensa luta pela liberdade de expressão e pela verdade. E a segunda, vinda de uma análise mais crítica, feita em geral por estudiosos e jornalistas mais atentos a essa questão, afirma que a imparcialidade não existe, pelo menos não como é retratada.

Do primeiro discurso podemos completar afirmando que realmente a imprensa tem um papel muito importante na consolidação da democracia, mas ela não é diferente de nenhum outro segmento da sociedade, em qualidade e defeitos. "Ela é atrasada, mal-feita e com problemas éticos que não perdem para nenhum setor" (Cf. PERRONE, Fernando. A imprensa em questão, p. 148), e "nada do que está acontecendo nela deixa de acontecer nos outros segmentos da vida brasileira. A imprensa é um agente social como a universidade, os partidos políticos, as comunidades eclesiais de base etc" (Cf. CALLADO, Ana Arruda. Idem, p. 170).

Do segundo discurso, concordamos e não tiramos o mérito das descobertas que visam esclarecer os problemas da comunicação social no país. E lembramos também que o que está sendo levado em consideração aqui, não é a imparcialidade do repórter, e sim da empresa de comunicação.

Logo concluímos que existe uma contradição entre discursoprática, e visão empresarialvisão social. No discurso dizem que têm uma visão social, mas na prática têm uma postura empresarial, isto é, respondem aos seus interesses políticos e econômicos, e neles muitas vezes não esta o desejo de esclarecer e tornar compreendido determinado fato à população.

E é nesse último fato que reside à questão da qualidade de informação. Até que ponto a visão da empresa e não a necessidade de conhecimento que a nossa sociedade tanto precisa, deve prevalecer?

A visão do proprietário que é passada através da postura da empresa diante de determinado fato e através de seu produto final, a matéria, deve ser questionado.

Não existe uma verdade absoluta, mas é essa a idéia que os veículos de comunicação passam a seus consumidores. E ela atende aos interesses de uma minoria.

A Globo, que não é diferente de nenhum outro veículo de comunicação, está inserida neste contexto. Foi necessária toda essa explicação, antes de citarmos o nosso objeto de análise, para que não fosse passada uma idéia errada de nosso trabalho, isto é, de que essas considerações citadas acima apenas fossem características a uma única mídia, o que sabemos não ser verdade.

Seguimos uma das idéias de Karl Marx, onde ele afirma "que todo o produto trás em si os vestígios, as marcas do sistema que o criou, que os traços estão no produto, mas geralmente permanecem invisíveis. Tornam-se visíveis quando o produto é submetido a uma certa análise, a que parte do conceito segundo o qual a natureza de um produto somente é inteligível quando relacionada com as regras sociais que deram origem a esse produto" (Cf. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural, p. 35)

Isso serve para podermos explicar a postura empresarial da Rede Globo, para que essa idéia não fique solta nas explicações e para que nossa afirmação de que os interesses da empresa ficam sobre os interesses da população, no que diz respeito à qualidade de informação, não sejam tidas como infundadas ou nascidas apenas de especulações vazias.

Então, podemos afirmar que no caso da Rede Globo, sua visão política sempre esteve ligada a "difusão massiva e maciça de mensagens" que garantam a "padronização de opiniões, desejos e valores, colocando-se facilmente no mercado maior quantidade de produtos, tanto materiais quanto ideológicos" (Cf. ALVES, Júlia Falivene. A invasão cultural norte-americana, p. 113)

Isso porque, "no bojo da ditadura aconteceu o fato mais importante e desenvolvido da história da mídia brasileira (...) a ditadura teve uma obra pronta e acabada: a Rede Globo. Ela dominou a comunicação no país, fabricou presidentes e até hoje domina" (Cf. PERRONE, Fernando. A imprensa em questão, p. 148)

O passado dessa emissora nos mostra como e para o que ela nasceu. Mostra que interesses veio responder e explica o porque das manipulações, ontem e hoje, nas informações.

Ela serve ao poder vigente.





A tese



A idéia e questionamento do trabalho giram em torno de uma única questão. O padrão Globo de jornalismo, que é manipulado de diversas maneiras e que tem como objetivo, atender interesses políticos/empresariais e não levar conhecimento e esclarecimento as pessoas, como dita qualquer manual de jornalismo e ensina qualquer professor em uma faculdade de comunicação social.

Mas é bom lembrar que de maneira alguma o trabalho afirma que essa emissora inventa fatos, pois "tem fracassado as tentativas de brigar com a matéria - exemplo clássico ocorreu em 1984, quando a tv Globo tentou inutilmente ocultar a existência da Campanha das Diretas" (Cf. RIBEIRO, Jorge Cláudio. Sempre Alerta, p.11).

Na verdade, o tratamento que se dá a um determinado fato é o que realmente importa, já que "na televisão, através da multiplicação não de informações, mas de trechos de informações, apresentadas como que soltas no espaço, sem reais antecedentes e sem conseqüentes. E essas informações não revelam aquilo que lhe está por trás, mas servem exatamente para ocultar o que representam; servem para interpor-se entre o receptor e o fato, e não para abreviar o caminho entre ambos. No máximo, dão do objeto algumas qualidades indicativas, que eventualmente revelam alguma propriedade desse objeto, dando ao receptor a impressão de conhece-lo através disso" (Cf. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural, p. 65).

Será que essa manipulação de trechos da informação realmente influencia na compreensão geral da noticia? A resposta é sim, porque "nesta situação, a informação tem pouco ou nenhum valor de revelação, servindo antes para desviar a atenção de outros assuntos e para fazer às vezes de simples propaganda ideológica" (Cf. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural, p.78), mostrando que "o crucial não é tanto o que se diz, mas o modo de dizer e o modo da consciência ativado por esse dizer" (IDEM, O que é indústria cultural, p. 84).

Ora, e essa consciência criada é a da alienação, isto é, o homem torna-se um estranho dentro do seu próprio meio, não conseguindo distinguir mais seu papel dentro da comunidade e perdendo sua capacidade crítica com os fatos que lhes são apresentados. E se esse individuo torna-se um ser acrítico, mais fácil é o processo de manipulação e manutenção das diferenças sociais existentes em nosso país.

Um documentário feito com o objetivo de não esclarecer, pode muito bem não mentir, mas sim omitir. Pode, por exemplo, fazer um trabalho sobre o analfabetismo no país, e não dizer ou explorar profundamente a questão de verbas para a educação, que como sabemos, é rarefeita. Essa meia visão de um assunto, apenas mostra um lado do problema e leva aos telespectadores uma idéia incompleta sobre o assunto. Ele tem a impressão de ter sido informado e desta maneira forma sua opinião a respeito.

Suponhamos que esse telespectador seja também um analfabeto. Após ver o documentário ele pode ter se identificado com uma ou outra história, mas o mais importante não ficou sabendo; o porque do seu analfabetismo. Se ele for um nordestino, logo vai pensar que não sabe nem ler e escrever porque teve que abandonar os estudos muito cedo para cuidar da roça. Jamais vai levar em consideração que não estudou porque não teve as mesmas oportunidades que o filho do coronel, e que enquanto ele deixava de estudar para sustentar sua família, pagava, com sua força de trabalho mal remunerado, a educação do filho do seu patrão.

Algumas pessoas podem afirmar que a tv Globo não é a única responsável pela formação intelectual do individuo. Essa é uma meia verdade, pois não podemos esquecer do alcance e prestígio que a mesma goza em nossa sociedade, e que para a grande maioria das pessoas, essa emissora é seu olho crítico para diversos assuntos que permeiam suas vidas, ou para ser mais especifico, uma janela para a verdade.

Senão, por que até mesmo a estética dos telejornais Globais é copiada por outras emissoras? Uma coisa é certa; não é por modismo, mas sim por sua eficácia junto ao público. É aquele que mais agrada. "Hoje, todos os telejornais do Brasil são iguais, com raras e pequenas exceções: tem um altar, com Jesus Cristo e Nossa Senhora, que são o apresentador e a apresentadora. E por que eles estão num altar? Primeiramente porque tem uma iluminação fantástica, com todas as decorações dignas de um altar. Além disso, têm uma imposição de padre, mas não há possibilidade de nenhuma improvisação; tudo é lido no teleprompter" (Cf. MUYLAERT, Roberto. A imprensa em questão, p. 60).

"A palavra representa o mundo na sua ausência, por isso traz em si a possibilidade de compreensão e traição da natureza" (Cf. CODO, Wanderley. O que é alienação, p. 68), mas não só a palavra. Podemos unir a ela a imagem, e juntas podem servir para o esclarecimento ou exclusão.

Nos fatos selecionados e analisados, o que mais nos chamou a atenção foi à visão acrítica e partidária da Rede Globo, sobre certos acontecimentos. Idéias soltas no ar unidas a imagens bem editadas e que formavam um par perfeito para a desinformação. Mas não é só. Alguns assuntos não são sequer abordados, dando lugar a notícias que nada representam para a nossa cultura ou desenvolvimento para a mesma.

Essas considerações nos levam a pensar em uma premissa da dialética de Friedrich Engels, onde ele afirma que o acúmulo de informação pode transformar-se em formação. Podemos atualiza-la, com base no veículo que estudamos, que na verdade o acúmulo de informação transformada acaba acarretando em formação manipulada.



"Por trás de todo o mistério das palavras ditas e não ditas, revela-se o fazer humano" (Cf. CODO, Wanderley. O que é alienação, p. 68).

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