Pensamos ter esgotado
Os temas para este treino,
Mas temos um reservado
Ao chegar do Pai o reino.
Soluços, dores e lágrimas
São temores que já foram
Gargalhadas e sorrisos:
São tintas que as dores douram.
Tomamos conhecimento
De que as coisas não vão bem,
Pois é grande este tormento
De passarmos por ninguém.
Os méritos são pequenos,
As rimas são pobrezinhas,
Mas considerem, ao menos,
Que preenchemos as linhas.
Claro está que é só retórica,
Para dar curso à poesia:
Nossa voz é estentórica,
Doce e meiga, a melodia.
Comigo não tem vantagem
Quem me aceita o desafio.;
É preciso ter coragem:
A rima está por um fio.
Se conhecer a poética,
Fazer verso é brincadeira,
Mas neste jogo da estética,
É fácil dizer asneira.
Por mais que nos empenhemos
Em dar curso a nossos versos,
Só nos cansam esses remos
Que no mar ficam imersos.
Repetimos a figura,
Que se faz bem comezinha.;
É p’ra manter a estrutura
E completar a quadrinha.
Contente está o escrevente,
Com as nossas redondilhas.;
Já confia mais na gente:
Em seu mar, somos as ilhas.
Uma outra coisa que o alegra
É nossa velocidade.;
A rima pode estar negra,
Satisfaz sua vaidade.
Mas, no fundo da consciência,
Aumenta sua expectativa,
Já que nos falta a ciência
E a moral não reaviva.
Ficam os versos bem chochos,
As rimas, descoloridas,
Como os adornos são roxos,
Ao final das nossas vidas.
Aqui e ali se apresentam
Versinhos mais graciosos.;
São os ânimos que esquentam,
Em desafios preciosos.
Sendo assim, vamos levando
Nossa tarefa ao seu fim,
O sentimento cansando
De reação tão chinfrim.
Às vezes, sai bem forçado
O texto do nosso assunto.;
Vai ficar sempre de lado
Quem não pode morar junto.
A sorrir, nosso escrevente
Empenha a sua caneta,
Põe confiança na gente,
Mas, por dentro, faz careta.
Ao som dessa referência,
Deixa o ouvido bem em pé,
Pois doce manemolência
Produzirá forte fé.
É longo o nosso caminho
Em busca da perfeição.;
É como a roupa de linho
Que exige moderação.
Queremos simplicidade
Nest’arte de versejar.;
É grande a complexidade
Do que temos p’ra ensinar.
Pode até ser presunçoso
O que acima colocamos,
Mas, para do reino o gozo,
Tudo haverá que aprendamos.
Pedimos simplicidade
Para a forma destes versos.;
Na prima oportunidade,
Foram eles mui perversos.
Vamos ter de reformar
Muitas quadrinhas das nossas:
Os barcos que vão ao mar
Se quebram nas ondas grossas,
Se tiverem avarias,
Que nem as nossas poesias.
É bem justo que digamos
Que nem tudo está perdido.;
Rosas pendem dos ramos,
Doce refrão é ouvido.
Mas algo definitivo
Era preciso deixar,
Ou perde seu objetivo
Este tão longo treinar.
Nosso amor pelo encarnado,
Que chamamos instrumento,
Não tem sido interpretado
Com base no sentimento.
Quem mede nossa poesia,
Julgando noss’alma fria
E distante o coração,
Deveria meditar
Como é duro o labutar
De quem faz a transmissão.
Ficaria mais tranqüilo,
Sabendo que eu não repilo
O tema mais escabroso,
Mas dando-lhe o tratamento
Pelo “Novo Testamento”,
Para torná-lo formoso.
Se são pobres nossas rimas,
São certas nossas estimas,
O nosso carinho e amor.;
Portanto, fique contente,
Confie um pouco na gente,
Sinta gostoso calor.
Somos boa companhia,
Quando a casa está vazia
E o escrevente fica só.;
Mas, ao chegar alma viva,
Muda a tal expectativa:
É ânsia de causar dó.
Vamos ter de liberá-lo,
De manhã se ouve o galo:
É de sua natureza.
Sendo assim, eu me despeço,
O samba não atravesso,
Beleza não vai à mesa.
Pretendíamos dizer
Deste enorme bem-querer
Que sentimos pelo amigo.
Não vá tolher-se por nós,
Você há de ouvir nossa voz
E dirá: — “Contem comigo!”
Pedimos a Deus no Céu
Que abençoe a todo o povo,
Que rasgue este espesso véu,
P’ra amanhã virmos de novo.
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