Isso é que é vergonha, homens!
Autora: Lílian Maial
17/12/04
Prezado Daniel Fiúza,
o nordeste é abençoado,
se falta o Papai Noel,
lá sobra um povo sagrado,
que luta pelo viver,
não se deixa esmorecer,
e ainda dança o tal xaxado.
Eu nunca deixei de ser
o doce e bom velhinho,
esperança pro sofrer,
trago um toque de carinho.
Se me fizeram simplório,
tô sem culpa no cartório,
inda brinco c’os baixinhos.
Na verdade, o povo esquece
o sentido do Natal,
fazem dele comilança,
bebem muito e passam mal.
Natal é renascimento,
nada a ver com fingimento,
nada a ver com bacanal.
O homem mudou o papel,
criou data pra comprar,
compra vaga até no céu,
dá brinquedo pra enganar.
Mas quem não tem condição,
fica sem bola e sem pão,
o ano inteiro a esperar.
Papai Noel não morreu,
mas é somente um velhinho,
que o homem subverteu,
ao longo desse caminho.
Ambição, demagogia,
e a barriga aqui vazia,
nenhum pão e nenhum vinho.
Explorado pela mídia,
eu virei antropofágico,
e jogado na desídia,
me transformei em algo trágico.
Mas crianças que têm fé
nunca vão ficar a pé:
meu trenó ainda é mágico.
Meu querido Daniel,
não te esqueças de quem sou:
sou o amor que tens no peito,
sou o mal que já passou,
sou a luta pelo bem,
a alegria de quem tem,
luz de quem nunca enxergou.
Tu também tens a missão,
meu querido Daniel,
de levar à multidão
um pedaço lá do céu.
Vê se entende, sem cobrança:
quem, um dia, foi criança,
é também Papai Noel.
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