João ninguém
hoje é alguém.
Felizardo,
antes um pobre coitado,
foi eleito deputado,
depois de haver comido
o pão amassado
com os pés
pelo coisa ruim.
Política é assim!
Recém-chegado
ao parlamento,
foi logo tomando
assento junto
ao líder do governo,
ao presidente do partido.
Êta sujeitinho sabido,
fingiu-se dissidente,
mostrou-se descontente,
subserviente,
patife,
velhaco
e sempre soube lucrar.
Enganou a mãe e a parteira,
neste mundo logo ao chegar.
Deu nó em goteira,
fez brotar jaca da bananeira
e goiaba do jacarandá.
Tudo na base
do toma lá
dá cá.
Paciente e determinado
passou a perna
em todo tipo de político
de padre
de ministro,
de bispo,
diplomata
e delegado.
Seu lema:
uma vela para Deus,
outra para o diabo.
Perito em negociata!
Especialista na mamata!
Enganou a própria sombra,
subverteu a física,
fez chover para cima,
nunca bateu prego sem estopa.
Conseguiu verbas polpudas,
para as obras
e muitas sobras
para alegria dos pilantras,
dos sortudos e sortudas,
que custearam a campanha.
É João ninguém,
um dia apanha,
no outro bate,
no outro dá o bote.
Mas, acredite!
Vote!
Vou cuidar
do bolso,
não do povo,
não dos pobres,
do meu, é claro,
sou sincero,
não quero
é me prejudicar.
Não tem conversa
não tenho pressa
quando se trata
de reforma eleitoral.
Voto distrital?
Assunto banal,
puro preconceito,
melhor do jeito que está.
Vamos mudar
o rumo da prosa,
cobra troca de pele
e não tem que pagar.
De tempos em tempos,
no parlamento
o mesmo acontece
sem ninguém por perto
para observar.
Aqui entre nós,
voto aberto
não tem serventia,
votação secreta
é garantia
de que nada vai mudar...
E agora eleitor prudente,
cidadão consciente,
responda sem titubear,
sou ou não sou qualificado
para lhe representar?
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