Conheço um jovem cantor
Que apenas pensa em dinheiro.;
Só canta canções de amor:
Não tem nenhum companheiro.
Que pensa o caro amiguinho
Da situação do infeliz?
Terá falta de carinho?
Sabe onde tem o nariz?
Conhecidos argumentos
Dir-se-ão em seu favor.;
Mas quantos são os momentos
Em que demonstra valor?
Imitemos o seu gesto
Ao levar felicidade,
Mas lancemos um protesto,
Ao fugir da realidade.
Poderão até pensar
Que a matéria predomina,
Mas, ao se desencarnar,
Ficará clara a ruína.
Eis a dura realidade
A que pomos referência.;
É, na cata da verdade,
Que usamos a experiência.
Por isso, caros irmãos,
Fiquem sempre bem atentos,
Se forem desejos vãos
Que lhes dão os seus alentos.
É preciso conjugar
O verbo “amar” com “servir”.;
Ao se contemplar o mar,
Uma prece deve ouvir.
Queremos, para encerrar,
Deixar um antigo aviso:
O mundo pode esperar,
Nunca vai ser paraíso!
Que tal estas novas trovas:
Estão de fato ao seu gosto,
Ou são bem ainda as provas,
Antes de mostrar o rosto?
Queremos só desdizer
Esta impressão de vazio,
Já que muito bem-querer
Aflui para o nosso rio.
Se tivermos contenção,
Arranharemos a rima,
Deixando, no coração,
A impressão de grande estima.
Pedimos ao escrevente
Que tenha muita paciência,
Que mais tolere esta gente,
Que demonstre obediência.
Sendo assim, prometeremos
Suaves inspirações
E também evitaremos
Algumas graves tensões.
Entretanto, a gentil arte
De elaborar a poesia
Espero que fique à parte,
P’ra não causar agonia.
Estamos aqui somente
Para treiná-lo este pouco,
Esperando que não tente
Dar de poeta ou de louco.
Por mais que nos empenhemos
Nestas quadras tão simplórias,
Por certo não ficaremos
Com os troféus das vitórias.
Atendendo a um bom pedido
Deste irmãozinho escrevente,
Teremos desenvolvido
Algo que o deixe contente?
Pediu-nos para que fosse
Nosso translato escorreito.;
Foi por isso que lhe trouxe
Um tema quase sem jeito.
Entretanto, esta linguagem
Se dilui em água pura.;
Não sei se tem a vantagem
De servir a esta estrutura.
É claro que tudo aqui
‘Tá longe da perfeição,
Mas, igual a algum saci,
Tem perna e tem coração.
Já chega de atrevimento,
Nosso tempo se acabou.;
Parece tão-só um momento:
Uma hora se escoou.
Por isso é que comentamos,
Com enorme euforia:
Não sabemos onde achamos
Este pouco de poesia.
É triste dizer adeus.;
Vamos falar até breve
E roguemos ao bom Deus
Que nossas falhas releve.
Na hora da despedida,
Sentimos que cria vida
A poesia que fazemos.;
Por certo, o nosso escrevente
Atende melhor a gente...
Ou somos nós que escrevemos?
Em todo caso, eu me vou,
Pois confiança não dou
A rimas sem perfeição.;
Se tudo chega depressa,
Isto não mais interessa
A quem ama co’emoção.
Como eu tenho algumas linhas,
Nesta página final,
Direi que estas quadras minhas
Não estão de todo mal.
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