SEM SOBREAVISO
O susto do inesperado
Nublou meu horizonte azulado,
Moldou-me no rosto um jeito amargurado,
E na alma deixou-me um nervo quebrado,
Na ânsia do que era esperado, foi-se calado,
Na bruma que me fiz submersa
Com o pulsar da veia adversa que escorria
Ao longo de caminhos concretos como o dia,
Firmou-se efêmero no vão da tarde que morria
O apelo da vida que se fazia no céu da noite que nascia
Foi aos poucos se tornando massa bruta
Matéria pura de que é feita a luta,
Que se trava nas lidas noturnas, obscuras,
Dos sonhos que a madrugada esconde e
Assiste bela e muda o meu desmonte,
Num lugar no qual não existe o onde
Que o peso da manhã encarou-me cinza,
Sem sobreaviso, tal a lâmina que corta o medo,
Nas súbitas viradas da sorte das quais não se foge,
Posto que renascer é padecer da eterna dúvida
De assistir em cores o próximo amanhecer.
MORGANA
Rio de Janeiro, 19/11/03.
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS
|