Da rosa branca, ainda,
Em dia de encanto e sonho
Brilha em completo abandono
A soberba tenra lida
E abrindo-se para a vida
Exala o doce perfume
Provocando um leve queixume
Naquele que lhe dá guarida
De porte altivo e delicado
Escrutina longe o mundo
E agarra num segundo
Num olhar ensimesmado
Como se segurasse o céu
Na forma de seu destino
Ainda quase em menino
Coberto do puro mel
Na calma alma do cerrado
O uso das tradições
Nas vestes trás o bordado
Em ponto de caseado
Como das casas dos seus botões
Que manteem o peito apertado
Como o arame contém o cercado
Ou os vidros dos lampiões
Da figura coleada
Debruada de feitiço
Como rosa orvalhada
Suprimido o enliço
Da herança do sertão
Fez-se a própria armadilha
- coisa que não sabia -
Nos jogos da sedução
E colorida de todas as cores
Naquele que ainda não era
Recriou a primavera
E negou todas as dores
Que pode trazer um rebento
Antecipado no tempo
Mesmo só um momento
Ainda que coberto de amores
Mas o tempo do corpo em suspenso
Trouxe uma verdade escrita
E angustiada a desdita
Sentiu a carne tremer
Ao pensar em perder o amor
Daquele progenitor
Que de tudo foi doador
E que a enfeitava com fitas
E de toda sorte olhou o mundo
Não mais com o olhar da criança
Que um silêncio profundo
Quebrou toda esperança
Arrebentando no peito os botões
Que antes a enfeitava,
E que agora vazão dava
Às lágrimas que brotavam aos borbotões
Mas nada naquele podia
Arrebentar aquele laço
Que foi atado com sangue
Tatuado no regaço
- ou escrito nos murais -
Pois só o tempo avalia
O quão forte é o amor de um pai
Por aquela escolhida como a filha
Corroído na própria dor
A acolheu num abraço
Não deixando nenhum espaço
Para dúvida ou embaraço
Demonstrando que o amor
Real de um progenitor
Dá o nome, sustenta o laço,
Defende a cria, levando tudo no braço.
Que um tímido sorriso
Marca a definitiva certeza
Que o amor não será negado
E que já não assola a estranheza
De saber que a rosa branca
Que trazia nas vestes o bordado
Como dita a natureza
Assemelha-se à exuberante orquídea do cerrado.