Sento-me ao computador
Clico... Escrevo e leio
Sobre aquilo que ideio
Burilando a primor
Com mais ou menos rigor
Que mais tarde é revisto
Horas e horas insisto
Como não tivesse fim
E sem sequer dar por mim
Até me esqueço que existo...
Passo dias... Meses nisto
Para além da lucidez
E mesmo de quando em vez
De cansaço não resisto
Ao sono onde desisto
Com o dia já a pino
Adormeço qual menino
Ausente de qualquer sonho
Insensível ao medonho
Feliz por não ter destino...
Vezes há que desatino
E me perco da razão
Face à provocação
Do vocábulo verrino
Que assaz bem genuíno
Também solto e utilizo
Sempre que seja preciso
Dar réplica condizente
Àqueles cuja vertente
Tem teor pouco conciso...
Quando e logo que diviso
Noutrem a má intenção
Sei usar o palavrão
Em cenas de improviso
Que do gáudio ao riso
Servem o divertimento
Se porventura o talento
De um mediano escritor
Se repartir num actor
Como mero passatempo...
As ilusões a contento
Sobre o óbvio em decurso
Pra fazer figura de urso
Já sequer as experimento
Ou distraído as tento
E só apenas persisto
Em frequente registo
Porque me afasto do ego
E enquanto descarrego
Até me esqueço que existo !...