— “Onde estará meu amor?” —
Perguntava eu intrigado.
— “Terei perdido o valor,
Para ser abandonado?”
Mas a verdade, entretanto,
Era muito diferente:
Era ouvido esse meu canto,
Por ouvidos de outra gente.
Caminhei, desatinado,
Buscando a minha querida.;
Estava bem ao meu lado,
Mas não se fazia ouvida.
O culpado era eu mesmo,
Que não controlei a vida:
Perambulei muito a esmo,
Às viciações dei guarida.
Então, chegou o momento
Do encontro com a verdade:
A causa do meu tormento
Foi mui profunda vaidade,
Aliada co’o egoísmo,
Que me punha superior:
Eu fugira do batismo
Das bênçãos dum vero amor.
Foi grande meu sofrimento,
Depois que tomei consciência,
No meu desenvolvimento,
Do que me causou falência.
Deus, porém, ouviu a prece
Do mudo pranto da dor:
De súbito, me aparece
Quem me dedicava amor.
Ajoelhei, deslumbrado,
Rogando perdão aos Céus,
Agradecendo, humilhado,
A graça que vem de Deus.
Agora cumpro a promessa
De tornar público e patente
Que não há quem os impeça
De progredir, simplesmente.
Vou receber bem a crítica
De quem não gostou dos versos.;
Deve ser essa a política,
P’ra não deixá-los imersos
Na penumbra meio mítica
Destes termos controversos,
Pois a principal figura
Será o bem da criatura.
Salvar esta inspiração
É algo bem indigesto,
Mas, feita de coração,
O resultado é honesto.
Por pouco não esquecíamos
Que apenas vamos treinando.;
Da maneira por que íamos,
Logo estávamos falhando.
Em matéria de poesia,
Nosso prumo se obliqua.;
É como se a melodia
Se atropelasse na rua.
— “Horrível!” — dirá o irmão.;
— “Horrendo!” — responde o eco.;
— “É um horror!” — o coração.;
— “Passável...” — nos diz o “ego”.
— “A verdade, finalmente.;
Queremos toda a verdade!...” —
Não nos percamos, ó gente,
Em razão dessa ansiedade!
Conhecimentos nós temos,
Boa vontade também,
Falta só pegar nos remos,
Em busca do sumo Bem.
Caprichando nós estamos,
Para mostrar aos seus netos
Que pesam, em nossos ramos,
Luz, calor e mais afetos.
Como está longe tal dia
Em que as santas criaturas
Entenderão de poesia,
Sem as mentes tão obscuras!...
Contrastes maravilhosos
Vão preenchendo este dia:
Há relâmpagos ruidosos
E sol de muita alegria.
Talvez não haja um poema
Que preste p’ra publicar,
Mas há trovas cujos temas
Não há que desperdiçar.
Eis o conselho que damos,
Ao final desta jornada:
Talvez não pesem os ramos,
Mas está a mensagem dada.
Escrevendo todo dia,
Dentro de uns anos talvez,
Aceitemos a poesia:
São negócios de chinês.
Querido amigo escrevente,
Perdoe toda esta gente
Que se abalança a escrever.;
Por certo, num outro dia,
Teremos a melodia
De profundo bem-querer.
Vamos sair de mansinho,
Deixando o nosso carinho,
Na prece de despedida:
A Deus rogamos com gosto
P’ra voltarmos a este posto,
Num gozo pleno de vida.
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