Ângulos e Vertentes: autor: Jesus Padilha: Artes Gráficas Ltda. São Paulo: 72 pg. Residência do autor: Rua Tijuco Preto, 188 - Cep 033 16 - Tatuapé-SP.
Por: maria do socorro c. xavier
Livro de poesia, do poeta Jesus Padilha, paulista; livro prefaciado por Cleide Veronezi, também paulista; comentário da orelha, pelo poeta paraibano Luiz Fernandes da Silva. (João Pessoa-Pb).
Outras obras do autor, porém com edição esgotada: Gimanto; Geena; Gazel e Pixoto da Paraíba. Auferiu diversos prêmios literários: Embaixador da Poesia Paulista de 1984/85; Troféu revista da Cidade, Literatura l984; Honra ao Mérito de 1984 pela revista da Cidade e Comendador da Ordem dos Cavaleiros da Cruz de Cristo.
O título do livro Ângulos e Vertentes, realmente condiz com o conteúdo poético - criação e trançando àngulos, percorre vertentes bem dialéticas. Vida e morte, amor e desespero, individual e coletivo se cruzam, dando ao autor uma performance bem original.
Não obstante o individualismo e intimismo, Ã s vezes, não impede de observar os fatos da vida exterior, tais como os conflitos sociais, concomitantemente com a necessidade de gritar pela defesa ecológica do planeta, que se desgasta dia a dia, por falta de uma consciência crítica em torno da natureza.
Os gritos existencialistas ressoam bem agudos, neste mundo conturbado, como vê-se em "Sou a décima dimensão"... " É como um ser perplexo e perdido / que não desiste de amor/ e procuro-te sem fim/ no sub mundo da minha consciência/ pois Amo-te até a loucura"..."Abaixo, a sensação de abandono deste menino do Nordeste, na sua solidão, cantada em versos" ..."sem padrinhos e sem paràmetros/ rolo na solidão do vento/ no oceano de minha fidelidade/ e morro em mim/ tragando a solidão do tempo"/ Deveras bonitos estes versos!
Há no autor um niilismo muito patente, fruto talvez da racionalidade apurada do eu com o mundo, nos poemas: "Lapido dia a dia/ sou a décima dimensão/ não quero que esqueças/ Não somos vozes/ não somos nada".
Contraditórias crises de fé, no autor, em:"Da semente nasce a flor [última estrofe], penúltimo verso de Espantado e segunda estrofe de A verdade tem seu preço. Mas ao mesmo tempo diz em Há Deuses: " Há deuses que me guiam/ nas estradas divinas/... E em Doação: "com o coração repleto de esperança/ ergui a súplica dolorosa/ ao poder maior/ abandonei o egoísmo e me doei/ agradecendo simplesmente/ ao infinito de mim".
O autor tem forte tendência social, evidenciada pelos poemas contidos na segunda parte do livro, que passo a destacar, entre outras: " bela masmorra espezinhada/ pela mola bruta/ e abrupta dos endurecidos/ demonios sociais/ que dizem ser racionais/ cuidado minha gente com aparências sociais/...vives experiências variadas/ de índios massacrados/ ah... criminosa capacidade de país da impunidade/ neste furor do século/ de usinas nucleares"...
Enfim ele tenta acordar o Brasil nestes versos: "venho de longe dos mares/ venho dos braços dos rios/ venho do sono das mortes/ para acordar o Brasil"...
Concluo estas breves observações sobre a obra de Jesus Padilha. Que prossiga nesta escalada de criação poética, infinita e fecunda, onde rasgam-se horizontes os mais diversos; e, acredito que ainda há no autor, muita coisa a explodir em seu universo poético.
