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Cordel-->O Reino Encantado de RUBENIO -- 24/11/2004 - 15:16 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



O REINO ENCANTADO DE RUBENIO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

Aproveitando uma semana de folga, resolvi conhecer a tão famosa Pasárgada. E, relembrando o passeio imaginário, antecipo minhas desculpas ao saudoso Manuel Bandeira posto que, devo confessar, não fiquei satisfeito com o que vi. O lugar não é lá essas coisas. Nada de tão surpreendente. Aliás, é até parecido com tantas outras localidades por onde andei.

Assim que cheguei na cidade, fui direto para o parque de diversões. Na verdade, fui conferir o que dela falou o poeta Bandeira. Havia, realmente, o pau de sebo, untado de gordura; e que até premiava, com dinheiro, quem conseguisse chegar ao seu topo; só que o valor do prêmio não cobria o valor do ingresso. Nem era suficiente para compensar as despesas com lavagem da roupa emporcalhada pela gordura.

Constatei a existência do tal burro brabo, a que se referiu o poeta. Sempre à disposição dos mais ousados, que se dispusessem a montá-lo. A surpresa, em relação ao burro brabo, era o risco de queda, com fraturas de ossos, sem que o valente herói pudesse contar com assistência médica adequada.

A questão da prostituição em Pasárgada era generalizada. Competia, em larga escala, com o descaso e o desrespeito em relação às poucas famílias que ainda preservavam suas crenças e seus valores éticos e morais. O local registrava grandes índices de pessoas contaminadas com AIDS, sífilis, blenorragia e tantas outras doenças da espécie. Até um surto da dengue já começava a se alastrar pela cidade. E havia troca de farpas entre as autoridades. O Monarca colocava a culpa nos governadores, e estes nos representantes monárquicos municipais.

A imprensa, de modo geral, contribuía para aumentar as incidências daquelas patologias infecto-contagiosas. Fazendo a apologia do sexo pelo sexo. Sexo como sinônimo de liberdade. Sexo que se propagava como arte: a arte da “nudez-economicamente-rentável” - que atraía mulheres famosas e dispostas a despir-se a qualquer hora, mas não a qualquer preço. As televisões exibiam programas de gosto duvidoso, levados ao ar no chamado horário nobre. Briga de marido e mulher; estrelas e atrizes mostrando para o público, ao vivo e em cores, a cor de sua calcinha, a posição sexual de preferência do artista, a prática de sexo explícito, enfim, a cultura do grotesco, para dizer o mínimo.

Em Pasárgada, o sistema de governo é semelhante a uma Monarquia Parlamentarista onde, a rigor, quem manda é Sua Majestade, o Rei. O Parlamento apenas homologa suas decisões. Em contrapartida, todos são agraciados com presentes de Sua Majestade: empresariado local, banqueiros, políticos e outros amigos do Rei. Apenas o povo ficava de fora.

O poeta Manuel Bandeira era a única exceção, pois era admirado pelo Rei e, por isso, gozava da amizade do Monarca. Boêmio e amante da bebida e das noitadas, aproveitava-se do privilégio da companhia de belas mulheres, com plena liberdade para escolher a cama onde deitar-se. . .

Fiquei em Pasárgada, aproximadamente, uma semana. Tempo mais do que suficiente para desvendar quase todos os seus mistérios e segredos. Depois, soube de outra localidade, próxima dali cerca de 50 ou 60 quilômetros.

Naquele lugar, todos pagavam impostos. Proporcional aos seus rendimentos. Havia justiça fiscal. Quem ganhasse mais, contribuía com mais. Inclusive os banqueiros. A educação, a saúde e a segurança pública eram de boa qualidade; e prestados sob à responsabilidade e custeio do Estado. Habitação e Transporte, idem. A cidade era muito limpa e bem cuidada. E não havia registros de roubos, furtos e assassinatos.

Todos participavam ativamente das ações políticas: sugerindo, reclamando, cobrando, e assim por diante. A reeleição era proibida. Primava-se pela rotatividade do poder, capaz de garantir a oxigenação das idéias. Nada de vitaliciedade.

O mais curioso de tudo, e de certa forma surpreendente, é que o reinado e a população, numa espécie de Carta de Intenções, sobre o futuro daquele lugar, daquela “Nova Pasárgada”, utilizou ensinamentos colhidos no livro intitulado "A Cortina de Ouro", do Prof. Cristovam Buarque, onde estavam definidos os caminhos que norteariam as ações daquele novo lugar, de onde resolvi transcrever alguns trechos:

"Há cerca de mil séculos o homem dobrou um esquina biológica: diferenciou-se de seus ancestrais, adquirindo um cérebro dotado de inteligência suficiente para perceber o mundo, entender parte dele e desejar dominá-lo. Há cem séculos, uma esquina técnica foi dobrada: o homem aprendeu a manejar a produção agrícola e criou uma vida sedentária (...) Há vinte e cinco séculos (...) o surgimento da esquina ideológica: os gregos inventaram a lógica e construíram uma organização social e política que caracterizaria a civilização ocidental até a queda do Império Romano, quinze séculos atrás. A partir de então, até o Século XVIII de nossa era, a sociedade medieval (...) do qual surgiram o Iluminismo e a Revolução Industrial, que provocaram a esquina da civilização industrial. Hoje a humanidade chega outra vez a um caminho (...) Mas, pela primeira vez em sua história, os homens têm conhecimento do que ocorrerá e têm diante deles a possibilidade de escolha. Em vez de uma esquina dobrada involuntariamente, sem escolha, a próxima dobra é um encruzilhada ética, definida pela vontade do homem, com dois caminhos alternativos: continuar com a ética do progresso deste século, ou fazer um progresso da ética para o próximo".
"Ao não se perguntar para que, mas apenas como, o homem perdeu o sentido crítico da sociedade que construiu, e, ao construí-la sem o sentido crítico, caminhou para o desastre".

De volta para casa, fiquei pensando como seria bom se o Brasil pudesse seguir os passos, os sonhos e as utopias praticadas naquele lugar encantado a que se referiu, por intuição, o prof. Cristovam Buarque. E chegando em casa, tive a surpresa. Registrada num livro que o carteiro deixara no escaninho de minhas correspondências preferidas. O reino existe. E seu Rei é sábio, talentoso e forte. Forte porque humilde. Forte porque suas armas são as idéias. Seu entusiasmo pela vida. Sua luta e sua admiração pelas artes; pela educação; pela cultura, como um todo; principalmente a literatura e a música popular; que brotam do fundo do peito do povo mais simples; e que alcança e surpreende patamares e camadas sociais ditos mais intelectualizados.

Esse local chama-se, adequadamente, O REINO ENCANTADO DO CORDEL. Onde se prima pela CULTURA POPULAR NA EDUCAÇÃO. E seu Monarca chama-se RUBENIO MARCELO. Um Rei que fala a nossa língua; que é brasileiro, e que já deu mostras do seu apego e seu imenso amor pela sua pátria e pelo seus compatriotas.

Um rei que tem a coragem e o discernimento de dizer em público que “nos últimos tempos, em diversos veículos de comunicação, temos assistido a uma certa onda de lamentáveis publicações propagando o vazio, marqueteando o ridículo, degenerando a cultura e mediocrizando a arte. Ás vezes, macaqueadas de elites estrangeiradas, inspiradas em exemplos exteriores, e descompromissadas com os valores ético-altruísticos e socioculturais da nossa sociedade, ..”.

E continua com sua justa indignação:

“.E é ao constatarmos estes degradantes instrumentos verborrágicos (que – de certa forma - agridem e ameaçam a consciência e a sagrada herança do nosso preexcelso patrimônio cultural patrimônio cultural brasileiro) que nos damos conta da importância vital da sublime folkcomunicação do nosso país. Uma vez que é através dos desígnios singelos da cultura folk e suas altivas manifestações – como, por exemplo, a nossa autêntica e fascinante Literatura de Cordel – que podemos ter acesso a tantos temas/mensagens de valores éticos, conscientizações cívicas, morais, sociais e histórico-educativas em versos: importantes fundamentos da cidadania tão necessários para a formação dos nossos jovens e adolescentes..”..

Com poetas, músicos e escritores da estirpe de Rubenio Marcelo, tão bem acompanhado de súditos não menos talentosos, como é o caso mais recente do nosso amigo e escritor Jorge Sales, parceiro de Rubenio no lançamento do CD “A Arte Maior de Rubenio & Jorge Sales”, ocorrido no dia 21 de novembro, em mais uma brilhante noite de estrelas, que encantaram súditos de várias regiões do Brasil, com musical de bom gosto, apresentado no Teatro Fernanda Montenegro, em campo Grande, MS, o reinado se fez presente.

No dia anterior, depois que li o livro, soube do seu lançamento e fiquei sabendo que o Rei continua grande e fazendo grande o seu povo.

Só desse modo, ouso dizer, ninguém precisará sair do Brasil para outros cantos. Procurar uma vida melhor. Procurar um emprego. Um salário decente. Um lugar para educar a si e seus filhos. Um lugar para morar. Um local onde tivesse garantida sua segurança e sua dignidade como pessoa humana.

Aqui mesmo, em terras brasileiras, todos poderíamos ser amigos; não só de um rei bondoso, sábio, justo e sensato. Mas de um rei que acredita, como Rubenio, na força e na inteligência de seu povo; e nas potencialidades e belezas desta grande nação.

Um rei que não se curva diante de outros reinados. Um rei que anseia pelo desenvolvimento sustentado e que pratica a justiça social e que abre caminhos com as armas de que dispõe: a música e a poesia.

A saída para todos os nossos impasses está dada. A receita é mudar o regime. Adotar a Monarquia do apego a cultura. Decretar a Música Popular Brasileira e a Literatura de Cordel como prioridades absolutas. E que viva El-rei Rubenio Marcelo.


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