O exemplo, há alguns anos a esta data, foi evidente e eficaz: a locupletação, por parte de algumas dezenas de deputados, com verbas destinas à exclusiva e condigna representação do Estado, deu o mote à confrangedora situação que agora vai transbordando escandalosamente nos mais diversos sectores da actividade pública e civil. Quantos dos deputados envolvidos no ilícito ainda hoje se sentam imunes nas bancadas do nosso Parlamento?
É soer dizer-se que "aonde comem uns, comem todos". Está provado que o popular conceito expandiu-se. Os cinco sentidos da população portuguesa reunem-se num comiserado sorriso sarcástico que assenta irónico e indiferente num descontraído encolher de ombros. O tempo não dá para esbanjar com semelhante política e perdê-lo em prejuízo da vidinha, cada vez mais apertada pelo cerco económico em que o país se vai coarctando.
Da constatação, a diversidade dos órgão da comunicação social não cessam de accionar o alarme, apontando as sucessivas fendas que se revelam no até aqui inexpugnável dique. Do espantoso ao hediondo a PJ vai entregando aos tribunais o ónus da justiça que é preciso e urgente cumprir-se e fazer-se. Em que escraboso processo estaria resvalando a nação se maugrado estivéssemos perante uma grande cambada de digníssimos inocentes?
A corrupção está de tal forma bem ciente que de antemão já se sabe a que procedimento tácito acorrer para obter o privilegiado favor de obter direitos legítimos insofismáveis ou, outrossim, ultrapassar barreiras legais. Os mais carentes, aqueles que deveras não vislumbram nesga possível para facear airosamente o quotidiano, mais ainda se afundam nas margens do lodaçal corrupto que não lhes dá a mínima oportunidade.
Os antigos mil escudinhos, o outrora fabuloso conto de reis, não são de facto os pseudo-equivalentes cinco euros. A notinha esfuma-se. Uma dezena de meses sobre o uso da nova moeda europeia, entre nós, demonstram o trambolhão que o poder de compra dos portugueses levou num ápice.
Aguardemos pelo futebol em 2004, desígnio mor da actualidade. Entretanto, com este frio, quem é que não se abotoa?