O palco eleitoral no Rio Grande do Sul está armado para o grande espetáculo da democracia. Os principais atores estão escolhidos e com os textos prontos para iniciarem os debates.
Neste ambiente, que antecede a propaganda eleitoral autorizada, de articulações, acordos e possíveis coligações, as pesquisas da semana passada indicaram uma polarização entre os candidatos Tarso Genro (PT) e o “socialista” Antonio Britto (PPS).
Evidentemente que pesquisa feita a cinco meses da eleição, não nos dá a certeza de vitória deste ou daquele contendor, mas nos fornece elementos fundamentais para análise. O empate técnico, na casa dos 35%, entre Tarso e Britto, com uma pequena margem favorável a Tarso e ambos com uma boa vantagem sobre os demais, torna evidente essa perspectiva de polarização. Podemos dizer que a vitória de Tarso não é assim tão segura e tranqüila, como proclamaram alguns cronistas da capital, após uma acirrada disputa interna com Olívio Dutra.
Nos três cenários apresentados pelo CEPA, Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da UFRGS, o terceiro colocado, Celso Bernardi (PPB) aparece com cerca de 30 pontos percentuais abaixo dos dois líderes, seguido do ex-petista José Fortunati, que busca reacender o trabalhismo gaúcho do PDT.
A pesquisa mostra uma tendência de concentração de votos, já no primeiro turno, entre dois projetos antagônicos. Serão confrontados os últimos dois governos: O atual, de Olívio, com uma ótica socialista de mundo, de cunho contrário as privatizações e com visão estratégica das estatais e o anterior, de Britto, com uma ótica liberal da sociedade, favorável as privatizações e do estado mínimo.
Vale lembrar que a propaganda eleitoral e os debates entre os candidatos começam, definitivamente, após a copa do mundo e Tarso e Britto receberam dividendos devido a uma exposição acentuada na mídia. Tarso, pelas prévias do PT, que ocupou espaços generosos nos jornais e Britto, pelo rompimento com a Frente Trabalhista e posterior decisão de concorrer e sair à cata de coligações. Não podemos fazer uma tresloucada avaliação, e nem menosprezar os partidos PPB, PDT e PMDB que são agremiações com uma forte base social no estado e no fulgor da campanha eleitoral, seus candidatos agregarão pontos percentuais.
Não sabemos qual será a reação do eleitor gaúcho acerca de algumas questões delicadas que rondam a nossa política: Tarso terá que se explicar durante os três meses de campanha, e será cobrado sistematicamente, sobre a renúncia ao cargo de prefeito de Porto Alegre, pouco mais de um ano após a posse. Terá que dedicar preciosos minutos de seu espaço gratuito na televisão, rebatendo críticas acerca da CPI da Segurança e do Clube da Cidadania. Em contrapartida, Britto enfrentará outro tabu, a troca de partido, que aqui no estado costuma ser cruel no resultado das eleições e a decisão de não passar o cargo na posse de Olivio, deixando que seu vice o fizesse. Certamente, aquela carta assinada de que não venderia a CEEE, voltará a ocupar os espaços da mídia eleitoral gratuita.
O Rio Grande já foi dividido entre federalista e republicanos, no início do século passado, posteriormente, entre maragatos e ximangos. Ainda temos presente nos causos dos nossos avós, os combates entre Flores da Cunha e Honório Lemes, este destemido e legendário caudilho da serra do caverá.
Atualmente, entre gremistas e colorados e, na política, entre PT e anti-PT.
Nas últimas eleições entre um fronteiriço, Antonio Britto (naquela oportunidade PMDB) e um missioneiro, Olívio Dutra (PT).
Entretanto, acredito que a polarização, histórica neste estado, será evidenciada mais uma vez neste ano eleitoral. Nas eleições de outubro, salvo algum fato político que desvie o curso deste pleito, estaremos divididos entre Tarso Genro e Antonio Britto. Um deles colherá uma primavera florida e o outro uma praga de primavera. É bem provável que esta eleição coloque por terra as pretensões políticas nacionais do perdedor.
Em outubro, o povo com sabedoria escolherá aquele que for melhor para governar os gaúchos. Enquanto a propaganda política não vem estaremos, nas madrugadas frias da pampa ou nas gélidas manhãs da serra, torcendo apaixonadamente pelo escrete verde e amarelo do Felipão.
A propósito, Tarso é colorado e Britto, gremista. Mas em política isso não quer dizer muita coisa.
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