Um maria-vai-com-as-outras
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Podia-se dizer que era um homem de boa memória. Muito curioso, também. Lia sobre quase tudo. E falava sobre qualquer assunto; e jamais esquecia de citar a fonte. E usava, sempre, o verbo no futuro do pretérito composto: “segundo fulano, beltrano teria dito”. Certa vez, assistimos, juntos, ao desabrochar de uma rosa, numa bela manhã desol. E perguntei-lhe o que achava daquele fenômeno. Ele ficou calado. Não soube opinar. Era, na verdade, um maria-vai-com-as-outras.
Quando eles se casaram tinham, ambos, a vista boa. Enxergavam muito bem e achavam ótimo o que estavam fazendo. Só muitos anos depois, passaram a usar óculos, e descobriram que, desde moço, tinham problemas de visão. E, assim, nunca viveram felizes para sempre.
DOM - 17 de maio de 2002
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