Estou um tanto confuso,
Neste começo de dia:
Giro que nem parafuso,
Trepido que nem tupia.
Tenho, porém, a missão
De ditar alguns versinhos.
Fá-lo-ei de coração,
Em versos pequenininhos.
Diminuí tanto os versos
Que estou dando a impressão
De que tenham sido imersos
Em especial solução,
Com resultados perversos:
São carros na contramão,
Correndo na disparada,
Perigosos e mais nada...
— Que perigos vejo aí? —
Pergunta-nos Wladimir,
Sempre muito preocupado.
Pois é justamente isso:
A quebra do compromisso,
Por mantermo-lo afastado.
Sempre que está provocado,
O caríssimo escrevente
Põe a sisudez de lado
E diz p’ra toda esta gente
Que, conquanto preocupado,
Vai escrever, simplesmente,
Indiferente ao assunto,
Desde que fique aqui junto.
Conhecemos bem o tipo
Do fanatismo do médium,
Que, para não sentir tédio,
Nos aceita o desafio,
E, quando diz: — “Eu engripo” —,
É porque se sente só,
A jogar os grãos na mó,
Ou a navegar no rio.
Por isso, me comprometo
A servi-lo com ternura,
Nesta intenção toda pura,
Na rima em que me complico.
Não diga que me intrometo,
Porque estes versos são meus
E eu juro, perante Deus,
Que à poesia me dedico.
Essa oitava logo acima
Não só pecou pela rima
Mas no sentido dos versos:
Foi um exemplo que dei
P’ra que se conheça a lei
Dos julgamentos diversos.
Não ficou claro o sentido
Da sextilha mais acima.
Não foi problema da rima
Mas da seqüência dos versos.
Respondo, pois, ao pedido
Para expor mais claramente,
Que foi causa este escrevente
Daqueles versos perversos.
— “É p’ra frente que se anda!” —,
Diz-nos o irmão instrutor,
P’ra que enfrentemos a dor,
Amainando estes tormentos,
Pois, quando a estrofe desanda,
Nosso mundo se partiu
E o poeta se feriu:
São dores e sofrimentos.
São bons estes exercícios
Para testar a firmeza
Do pessoal desta mesa,
Perante seus insucessos.
Mas evitemos os vícios,
Ajamos com a consciência,
Tenhamos muita paciência:
Logo virão os progressos.
Está o amigo tranqüilo,
Percebendo com que força
Vamos pôr rima que torça
As suas desconfianças.;
Sem ter certeza daquilo
Que produzimos num átimo,
Vai ficando sorumbático,
Vai perdendo as esperanças.
Mas nem só de brincadeiras
Vai vivendo a nossa gente:
Se o assunto é diferente,
Pomos manguinhas de fora,
Pois, para dizer asneiras,
Basta um pouquinho de verve
(Casca grossa não nos serve)
E a estrofe se faz na hora.
Mas nosso médium resiste:
O que p’ra nós é gracejo,
P’ra ele vai ser o ensejo
De nos prestar um serviço.
P’ra que, então, não fique triste,
Tome só mais um golinho
Daquele nosso bom vinho,
Que lhe dará novo viço.
Sabemos ser, finalmente,
Esta estrofe a derradeira,
Que, em cotejo co’a primeira,
Está levando vantagem.
Fica alegre o escrevente:
Mais um dia se passou,
Que ele mui bem registrou,
Com pacienciosa coragem.
A prece de despedida
Cada qual diga por si,
Buscando lhe dar mais vida
Do que a vida que está aqui,
Eivando de sentimentos
Os mais belos pensamentos.
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