Comecemos devagar,
P’ra não ser grande seu susto:
Conjugando o verbo “amar”,
Diminuiremos o custo.
Damos bola p’ra torcida,
Sempre que existe o desejo
De nos enchermos de vida,
Ao toque do realejo.
Todos queremos saber
O que o destino nos reserva:
Periquito, vem trazer
Sapiência de Minerva.
Se viemos devagar,
Já é hora de aumentar
A sua velocidade.
Não queremos assustar,
Mas, se isso for custar,
Coloque cumplicidade.
Os termos com que tratamos
Os assuntos da poesia
São os mesmos com que damos
À prosa sua harmonia,
Mas é preciso saibamos
Ser bem outra a melodia
Que canta, com emoção,
A vida do coração.
Se não tivermos sucesso,
Faremos qualquer gracinha:
Não mais haverá progresso,
Porém, haverá quadrinha.
O nosso tema do dia
É difícil p’ra chuchu,
Já que falar de poesia
Não é para “brucutu”.
Eis o exemplo definido
Do que tínhamos em mira.
Terá o irmão percebido
Como é que tange esta lira?
Aos pouquinhos, as palavras
Se ajustam perfeitamente:
São diamantes nas lavras,
Gemas, nas mãos do escrevente.
Mas já estamos satisfeitos
Com estas preliminares:
Estando os versos perfeitos,
Vão-se tornando exemplares.
Entretanto, a nossa lida
Não termina por aqui:
Consideramos cumprida
Só metade do rali.
É bom levar o escrevente
A pensar junto co’a gente
A respeito dos problemas:
Na hora da solução,
Havendo mais emoção,
Melhoram nossos poemas.
Mas o nosso compromisso
É terminar o serviço,
Sem deixá-lo angustiado.
Deve, sim, sentir o gosto,
Estando o poema posto,
Dum sabor edulcorado.
Nem é brega, nem é chique,
Nem deve causar chilique,
Ao levantar a poeira:
Fiquemos, humildemente,
Ao lado de toda a gente
Que gosta de brincadeira.
Mas, se o assunto for mui sério,
Coisas lá do cemitério,
A causar assombração,
Arregacemos as mangas,
Acomodemos as cangas,
Acordemos a emoção.
Existe um certo mistério,
Ao se tanger o saltério,
Que nos enche de saudade,
Pois são formas primitivas
De nos porem bem ativas
As lembranças doutra idade.
São nossas recordações
Tão-só reverberações
Das venturas doutras eras.
O que nos cala no peito
Deverá ter outro jeito:
Promessas doutras esferas.
Se este meu querido amigo
Desejar aqui parar,
Irá saber que eu não brigo:
É muito grande este mar.
Havemos de ser felizes,
Pois já lançamos raízes
Dentro de seu coração.
Amanhã é outro dia
P’ra treinar nossa poesia,
Com muita satisfação.
Quando Deus criou o mundo,
Não o fez em um segundo:
Tudo brota devagar.
Da mesma forma, esta vida
Só pode ser compreendida,
Se conseguirmos amar.
Aproveitei este ensejo,
A partir desse desejo
De suspender o ditado,
P’ra prosseguir destemido,
Neste trabalho envolvido,
Mas tendo muito cuidado.
Improvisar é preciso,
Mas é preciso juízo
P’ro verso não desandar.
Se formos só sentimentos,
Ficarão os pensamentos
Completamente no ar.
O bom irmão que perdoa,
De todos nós se condoa,
Por termos voltado ao tema.
Não que sejamos teimosos,
Tampouco somos vaidosos:
Persistir é nosso lema.
Chegará ainda o dia
Em que faremos poesia
Digna de todo respeito.
O nosso verso de agora
É diamante que esplendora
Somente dentro do peito.
Eis que esta felicidade
Vai encher-nos de saudade,
Quando a vida terminar.
Aí nos recordaremos
Do peso dos nossos remos,
Ao enfrentarmos o mar.
É um pouco a contragosto
Que deixamos nosso posto,
Ao se encerrar este dia.
É que, ao falar de saudade,
Recordamos outra idade
Em que a vida era poesia.
Derramamos nosso pranto,
Agora cheios de espanto
Dessa emoção sorrateira.
É que a poesia era vida,
Num’alma que foi ferida
Por uma dor verdadeira.
Não faz mal, caro irmãozinho,
Receba-nos com carinho,
Mesmo co’a rima imperfeita.
É que, p’ra fazer poesia
Com melodiosa harmonia,
Só a dor tem a receita.
Vemos que seu interesse
Prendeu-nos hoje conosco:
Para se livrar do enrosco,
Nosso preço há de ser esse.
Já nos vamos despedir,
Convencendo o Wladimir
Que deve amanhã voltar,
Encerrando os nossos versos
Co’aqueles termos perversos
Que sempre devem rimar.
Rogamos a Jesus Cristo
Que nos ajude com isto,
Nos mandando inspiração,
P’ra que nosso pensamento
Se eleve neste momento,
Tendo Deus no coração.
Sabemos que a despedida,
Para ser bem comovida,
Tem de dar satisfação,
Mas não por causa do adeus,
Mas porque, perante Deus,
A verdade é emoção.
Vamos, assim, encerrando,
Co’o coração festejando
Esta participação,
Embora com rimas fáceis,
Com versinhos pouco gráceis,
Mas sorrindo, com razão.
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