Raiava o Sol no horizonte,
A escuridão se perdia:
Se não existir quem conte,
Conto eu, nesta poesia.
Eis-nos aqui novamente,
Para fazer uns versinhos.;
Trate-nos, pois, o escrevente
Com muito amor e carinhos.
Sabemos ser divertido
Ficar a escrever à toa
Algo que tenha sentido
E, no final, inda entoa.
Queremos dizer com isso
O que bem sabe o escrevente:
Atendendo ao compromisso,
O malho ficou co’a gente.
Fica alegre o nosso amigo,
Satisfeitaço da vida.;
Não se preocupa comigo,
Ao vir ou na despedida.
Às vezes, dou-lhe trabalho,
Na métrica dalguns versos,
Se as sílabas embaralho,
Ou com finais controversos.
Estava ele contente,
Até a quadra anterior,
Mas aí ficou descrente
De haver, nos textos. valor.
Claro que nem tudo chega
Perfeitíssimo e completo:
Até p’ra que cante a pega,
Há quem deixe o bicho cego.
Você pegou o sentido
Que demos ao pensamento,
E perguntou ao ouvido
Se lavramos mais um tento.
Dessa forma, mais um verso
Se acrescenta aos anteriores.;
Pode chamá-lo perverso,
Se lhe causou muitas dores.
Mas se as rimas aparecem,
Se desenvolvem e crescem,
Tendo sentido no fim,
Ninguém aqui se aborrece,
Ao contrário, até parece
Que confiam mais em mim.
Se o verso nasce perfeito,
Se a rima vem de mansinho,
Quer dizer que temos jeito:
Somos aves no seu ninho.
Recebamos o convite
Com fé e muita coragem,
Que nossa Musa se excite
Diante de nossa imagem,
Pois a hora é chegada
De complicar a parada.
O nosso bom amiguinho
Vai escrevendo somente,
Recebendo com carinho
As idéias desta gente,
Por isso diz corajoso:
— “Eis-me aqui, forte e gostoso!”
O sentimento é saudável,
Pois lhe mostra claramente
Que este grupo é confiável,
O que o texto não desmente,
Entretanto, é bem preciso
Que demonstremos juízo.
Sai mui fácil este verso,
É simples a nossa rima.;
Estrelas são no Universo,
No limeiral, uma lima,
Mas o sentido que têm
Só se ajusta neste trem.
Para termos mais sucesso,
Precisamos compreender
Que é contínuo o progresso,
Que só cresce o bem-querer,
Que p’ra fazermos poesia
Há que se ter harmonia.
Assim, aumenta o desejo
De fazer algo bem sério,
Como os poemas que vejo
Saídos desse mistério
Do país da inspiração,
A nos encher de emoção.
Precisamos estudar
Algum ponto doutrinal,
Algo bem elementar,
Mas que soe natural,
Pleno de simplicidade
P’ra dizer com humildade.
Teria já começado
Essa fase da poesia,
Ou achamos engraçado
O som desta melodia,
Algo que tenha falhado,
A perturbar a harmonia,
Embora seja uma oitava
Esta casa em que habitava?
Sintam que estamos tentando
Mudar de cara e de rumo:
Apesar de algum desmando,
Nosso verso segue o prumo,
E nosso assunto está dando
P’ra conseguir um resumo,
E as nossas rimas conformam
Os temas que se transformam.
Vai chegar o nosso dia:
É forte o pressentimento.
Aumenta nossa alegria,
Diminui nosso tormento.
Já se dilui a poesia,
Nos prantos do sentimento.
A forma se aperfeiçoa
E o pensamento já voa.
Talvez nos falte o segredo
Duma experiência de vida,
Um fato como o degredo,
Que nos torna a alma sentida,
Que nos engrandeça o medo
Dalguma dor presumida,
Que nos fixe o pensamento
E perturbe o sentimento.
Vai ser ainda preciso
Dar valor à inteligência,
Compreendendo o seu aviso,
Como norma de prudência,
Já que é preciso ter siso,
Caso haja resistência:
A poesia há de fluir,
Quando a mente progredir.
Achava fácil o verso,
Diferente da poesia:
Se aquele era mais perverso,
Esta não pode ser fria.
Isto parece o reverso
Do que há instantes eu dizia:
Pensei fazer as quadrinhas,
Só preenchi várias linhas.
Vejam só no que tem dado
Todo este treinamento:
Se não tomarmos cuidado,
Poremos em julgamento
O que está metrificado,
Sem muito discernimento,
P’ra concluir, finalmente,
Que é preciso ir em frente.
Ficou com medo o amiguinho
De que eu fosse condenar
O que, com tanto carinho,
Pôde ele coordenar,
Tendo vindo de mansinho,
Chegando a aperfeiçoar,
Guardando bem na lembrança
Todos os passos da dança.
Quisemos vê-lo sorrir,
Como o gordo Sancho Pança,
Quando via refletir
O Dom Quixote da Mancha,
Pois o nosso Wladimir
Tanto verseja e não cansa,
Provando que à persistência
Deve-se unir a paciência.
São tantos os nossos versos,
Estrelas nos universos,
Perdidas na escuridão.
O que estamos sugerindo
É que só poema lindo
Obterá divulgação.
Por isso, bondoso amigo,
Mantenha sua esperança
De abandonar este abrigo,
Pois, ao surgir a bonança,
Passou o grande perigo
— Pois o medo também cansa —
Que acompanha a tempestade:
Reflita nesta verdade.
Queremos agradecer
A recepção que tivemos:
Foi agradável de ver
Registrar o que dissemos,
E sentir o bem-querer,
Pelos informes que demos.
Acredite, bom amigo,
Que pode contar comigo.
Mas não pense que outra gente,
Ao conhecer os poemas,
Aja diferentemente
Dos ditados dos seus lemas,
Pois o que se tem na mente
Se divide em vários temas,
Dentre todos, o mais caro
É demonstrar ser avaro.
Vamos encerrar dizendo
— Já que o assunto é muito sério —
Que estamos bem compreendendo
Destes temas seu mistério,
E que não basta ir mantendo
Defuntos no necrotério:
Tendo havido a exumação,
Dê-se a tal dissecação.
Eu elevo o pensamento,
Na hora da despedida,
Pedindo a Nosso Senhor
P’ra que nos cubra de amor,
E que seja o fundamento
Desta nossa curta vida,
P’ra que, na hora do adeus,
Fiquemos nas mãos de Deus.
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