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cronicas-->Terapia -- 07/01/2003 - 08:27 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os sonhos são incríveis. Sempre revelam algo inusitado. Outro dia ainda, alguém me falou ter sonhado que fazia análise com o verdureiro, seu António.

Seu António visita o bairro toda a semana, pilotando sua velha Kombi e apregoando as maravilhas das verduras e frutas que traz para a freguesia que sempre o espera com certa ansiedade. Não só pelas verduras e frutas mas, sobretudo, pela terapia.

A primeira idéia que vem à cabeça é a de imaginar o pobre Seu António de jaleco branco, bem barbeado, mais magro, gravata. Um Seu António renovado, com cara, jeito e trejeito de analista. Como diz um amigo, chance zero. Seu António não se adaptaria a este figurino nem com mil Danuzas a dar-lhe dicas, nem com seiscentas Pascovitches a sussurra-lhe idéias. Sem chance.

Mas há que alargar os horizontes, olhar o passado e logo se percebe que pode ser diferente. Na realidade já é, minha amiga é que não se deu conta. Seu António, aparentemente segue os passos do Analista de Bagé. Não propriamente na técnica. Seu António não dá joelhaços nem conta com os préstimos de uma Lindaura. Seu António segue o colega do sul, melhor dizer inspirador, na capacidade de obter sucesso com técnica inovadora.

Seu António percorre a rua apregoando suas frutas e verduras. Quando as clientes chegam, compram o que precisam e desatam a falar. Amantes, maridos, filhos, sogros, pais, empregadas, verdureiros, limpadores de piscinas, professores dos filhos, instrutores da academia, vizinhos, e tantos quantos lhe cercam, inspiram ou atormentam a vida. Algum destes ou vários como não raro acontece, há de ser objeto da sessão de cada semanal.

Há clientes que falam sempre do mesmo personagem. Dona Laura, da casa verde, quase na esquina, sempre fala de seu analista. Diz que ele não faz nada, não receita nada, não diz nada. Diz que cobra uma fortuna e nem isto faz pessoalmente. Delega à recepcionista, secretária, auxiliar de enfermagem, o que seja aquela moça. Bonita ela, diz Dona Laura e sai a descrever o consultório. Seu António já sabe tudo, inclusive que a almofada verde está com um furo feito por D. Laura num momento de raiva.

Seu António, não diz nada, não faz nada, não receita nada, mas cobra pessoalmente que ele não tem secretária. Quando muito, ao término indica um chá de alguma folha que oferece como brinde, o que já constitui grande vantagem frente ao Analista de Dona Laura. Ele fica ali simplesmente dizendo "Inhé!". Ao longo da conversa da cliente, ele vai variando a entonação de seu "Inhé!". No início interrogativo, com surpresa, depois, mais relaxado, com paciência, com compreensão. Se a cliente se alonga muito, com uma certa impaciência. Até que a história termina e a cliente pergunta quanto custam as verduras. Ele acrescenta cem reais ao preço e apresenta a conta. No início Dona Laura ensaiou uma reclamação, estranhando a atitude de Seu António. Pacientemente, ele ouviu mais uma vez com seus "inhés!" e acrescentou mais cinquenta. Dona Laura compreendeu logo. Comparou com o analista, calculou a gasolina, o estacionamento na cidade e os resultados. Nunca mais reclamou.

A propaganda boca a boca é muito importante. Seu António nunca mais teve que explicar porque acresce cem reais ao preço das verduras. Curiosamente, as clientes nunca vêm juntas. Ficam observando. Quando sai uma, outra corre. As outras esperam. Assim segue até que todas sejam atendidas.

Inhé!


Escrito em 30.11.2002
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