Quando é chegado o momento
Do nosso desprendimento,
Na partida para o etéreo,
Ficamos arrependidos
Dos tempos tão mal vividos,
Temendo o grande mistério.
Se temos algum parente
Que partiu na nossa frente,
Para ele é que apelamos.;
Embora de rabo preso,
A sentir o corpo teso,
Alguma graça esperamos.
Já começa a despedida,
Num suspiro vai a vida,
Mas bem presos são os laços.;
As lágrimas que escorreram
Alguns pontos corroeram,
Mas não se soltam os braços.
O bom amigo evocado
Vem postar-se ao nosso lado,
Querendo prestar socorro.;
Suas preces são ouvidas:
Chegam equipes saídas
Do mar, da mata, do morro.
Mas nos grita a consciência:
— “É preciso ter paciência!” —,
Pois fizemos algum mal.
Esquecidos da verdade,
Praticando a caridade,
Os guias nos dão moral.
O pranto vem convulsivo,
O sofrimento é bem vivo,
Atinge-nos o remorso.;
Perpassam pela retina
Os fatos de nossa sina,
Um a um, em longo corso.
Se alguma ação foi bem boa,
Se não vivemos à toa,
Vão soltando-se esses laços.;
Mas se vemos algum crime,
Algo que nos desanime,
Aumentam os embaraços.
Se a crise for muito grande,
P’ra que a ajuda não desande,
Concentram-se em oração,
Para receber auxílio,
Reunidos em concílio,
Do bom anjo guardião,
Que chega bem preparado,
Com o dossiê do lado
De tudo o que o moço fez.;
Se forem crimes perversos,
Os climas serão adversos,
Os nós se apertam de vez.
Mas se se teve o cuidado
De dar ao necessitado
Comida, abrigos e amor,
Os nós logo se desfazem,
Os amigos se comprazem:
Aquele ali tem valor.
Solicito aos amiguinhos
Que estendam os seus carinhos
Aos irmãos com quem se lida,
Pois, quando chegar a hora,
De se arrumar p’ra ir embora,
Irão felizes da vida!
Se nos pedirem um nome,
Para pôr depois dos versos,
Não vai ter nenhum renome:
Somos autores diversos.
Se fizemos uns versinhos,
Nada disso tem valor.;
É muito mais importante
Mitigar alguma dor.
Vem-nos daqui a esperança
De que algum caro leitor
Guarde fundo na lembrança
Um sentimento de amor.
Por isso, bons amiguinhos,
P’ra que se evitem espinhos,
Que são próprios destas flores,
Procurem ser bem cordatos,
Não relacionem os fatos
Em brancos, negros e em cores.
Vejam colorido o mundo:
O céu dum azul profundo,
O mar verde a reluzir,
E as pessoas complacentes,
Com as auras resplendentes,
Eternamente a sorrir.
Não quero deixar a casa
Do nosso amigo escrevente,
Sem dele me despedir.;
Embora não tenha asa,
Sempre vôo bem contente,
P’ra abraçar o Wladimir.
E, no fim de tudo isto,
Agradeço a Jesus Cristo
Toda ajuda aos versos meus.;
P’ra que chegue à perfeição,
Vou pedir de coração
As bênçãos que vêm de Deus.
Vou dando “chá de sumiço”,
Pois já prestei meu serviço,
P’ra honra do socorrismo.;
Mas como não sou poeta,
Fico a jogar minha seta
Provocando terrorismo.
Assim dou por terminado,
Um pouquinho atrapalhado
Com os temas deste dia,
Porém, vejo que esta rima
Já um pouco se aproxima
Da exigência da poesia.
Com isto fica contente
O nosso caro escrevente,
Mais toda esta nossa gente,
Que se exulta de alegria.;
Mas, olhando no futuro,
Lá no horizonte, eu procuro,
Um luzir de ouro mais puro:
É onde vive a Poesia.
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