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Contos-->A ÉPOCA DAS CADELAS NO CIO -- 16/05/2003 - 00:39 (DENIS RAFAEL ALBACH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A época das cadelas no cio


Ficara depositado aquele livro antigo sobre a cômoda velha à beira da cama velha renovada com lençóis frescos e perfumados. Os lençóis suaves eram mais atrativos que o romance esquecido ao lado da vela sempre acesa. A história contava também a alegoria dos astros e as situações e mudanças da lua cheia. Embora nunca lido, o livro era um enfeite com sua capa dura, suas folhas revestidas de dourado sobre um pano de veludo carmesim que mirava o lustre daquele quarto de casal.A descrição das fases da lua nas noites de quaresma eram relatadas com a própria malícia que era exercida na prática o que a teoria do livro não lido relatava. Fazia já um ano que ele estava posto ali desde o último carnaval.
A situação da família decaía a cada nova estação. A mãe cansada e angustiada com o curso em que se formara, dava aulas na faculdade estadual contrariada dos seus próprios gostos. As aulas se tornavam chatas ao passo que os alunos acharam chato ter aquelas aulas chatas; contudo, a professora tornara-se chata e deprimida. Tinha ainda um sorriso lilás no canto de baixo da boca nas aulas de sexta-feira. Após as aulas entediantes, o marido buscava-a para o baile dos casados no melhor clube da cidade. Lá aconteciam as danças e músicas onde podiam se divertir e relembrar os velhos tempos que os anos passados traziam-lhe na memória. Lá era onde seu sorriso era mais cor-de-rosa e tinha um ar de graça em sua fala. Lá era onde se sentia realizada em meio à diversão que aquela euforia fazia lhe aquecer seu sangue. Esquecia dos livros de português e filosofia que ficavam embutidos na sua mala de aula. Aulas só terça-feira. Tem sábado, tem domingo e um feriado na segunda para livrá-la da enxaqueca que a lembrança de retornar ao curso lhe causava. Na sexta-feira, como aquela, o marido também já era um homem renovado. Voltava o vigor.A vontade de tornar-se jovem outra vez e poder reviver a antiga lua-de-mel.
Ele tinha seu próprio negócio quase no centro da cidade. Uma loja quase falida que os últimos anos lhe acrescentaram dívidas sobre juros altos. Aquilo seria liquidado se o justo dinheiro da professora da universidade não ajudasse a saldar as contas. Ele também se entediava do porquê ela não querer avançar em seus cursos. Um mestrado.Um doutorado. Os estudos não chamavam mais a atenção dela. Dele muito menos. Quando jovem investiu sua poupança no antigo negócio do pai. Abandonou os livros e o primeiro ano da faculdade de Direito pela vontade de dar continuidade na loja falida do pai. Casou-se com ela logo em seguida. Tiveram filhos. Estacionaram no tempo. Tiveram poucas alegrias com os filhos que não se tornaram bons cidadãos. Eles se casaram várias vezes com mulheres diferentes. Tiveram filhos com umas.Filhos com outras e não deram sorte no matrimônio. Uns casaram-se mais de três vezes. Outros tiveram mais de quatro filhos com mães diferentes. O casal teve ao total seis filhos ao longo da vida que não lhes deram nenhuma alegria.
A professora com o marido se divertiam na sexta-feira à noite no baile da cidade. Tudo sempre terminava igual. Sábado e domingo se estendia e o casal passava o feriado trancado no quarto na tentativa de recordar os primeiros anos de casados com as antigas fantasias e o capricho de um casal. No dia seguinte, o dia da aula, ela não tinha matéria pronta e improvisava qualquer coisa e qualquer coisa dava aos alunos. E os alunos achavam as aulas chatas porque a professora achava os alunos chatos e nada daquilo lhe dava prazer.
O livro de filosofia ficava esquecido na cômoda de seu quarto. Ele relatava também os processos da formação e realização do ser humano e a busca por uma nova ideologia e uma revolução interior. Ela fugia daquela cena. Revirava sua mala de aula em busca de encontrar algum papel que salvasse sua aula. Encontrou ali no instante o informativo das inscrições para o mestrado, mas o último feriado roubou-lhe a atenção. Ela pensava ainda no marido, no seu quarto, no baile, o após baile e aquele movimento de pensamentos distraíam-lhe e aquilo lhe fazia gozar da vida.
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