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Artigos-->A AMIZADE NAS RELAÇÕES VIRTUAIS -- 16/05/2002 - 03:05 (Maria Teresa Albani (Maytê)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A AMIZADE NAS RELAÇÕES VIRTUAIS

Maria Teresa Albani (Maytê)



 .... coração é o quintal da pessoa...

... é tão bom o nosso amor MADURADO...

de carinho.

Milton Nascimento







A cada dia que passa, mais me espanto com as relações virtuais. Com a vertiginosidade com que se estabelecem, e a rapidez com que se deterioram.



Penso que as pessoas estão confundindo amizade com convivência e, por causa disto, cobrando demais, exigindo demais e se decepcionando demais.



O que é, afinal, amizade, que não a proximidade de almas, afinidade, respeito pelo outro e aceitação plena do que se é como pessoa? E desde quando se consegue isto sem se conhecer de fato alguém? 



Por conhecer não me refiro a visualizar, a apertar a mão ou olhar nos olhos. Falo de um conhecer mais intrínseco, que só o tempo e a vontade de aprofundar afeto nos proporcionam. E isto, dificilmente, se dá após a troca de meia-dúzia de emails ou alguns encontros numa sala de chat. 



Percebo, nos encontros virtuais, a facilidade com que as pessoas dizem "eu te amo" umas as outras. Como é fácil amar - sem consistência e por puro interesse. Interesse sim, pois quando pinto o outro com 24 milhões de cores, ignorando que sua paleta tem apenas 256, quando lhe atribuo especialidades que não possui, quando espero dele aquilo que não pode me dar, estou transformando-o no objeto das minhas fantasias afetivas. 



Há uma pressa enorme em dimensionar os relacionamentos — e por mais que tenhamos "afinidades", e por mais que possamos sentir simpatia por nossos parceiros virtuais, até que ponto podemos chamar amigo a alguém que ainda não tivemos chance de conhecer? Até que ponto podemos trocar confidências? Até que ponto podemos nos expor, enquanto a confiança não se estabelece? Por que somos cobrados a entrar inteiros numa relação que ainda está engatinhando? Por que temos que ser responsáveis pelos carentes profissionais, que exigem nosso afeto integral e imediato para suprir sua insaciável fome de afeto?



É fácil reconhecer um carente profissional: aquele tipo ávido por atenção e elogios, cuja única finalidade na vida é ser amado, e que, para tal, não mede esforços. Tem uma personalidade aparentemente afável, está sempre à disposição para ajudar, tem a receita certa para nossa enxaqueca e a solução para todos os nossos problemas (segundo seu ponto de vista, é óbvio). Mas, em troca dessa doação toda, quer que o amemos na medida exata em que quer ser amado. E como isto dificilmente acontece, já que para este tipo, afeto nenhum satisfaz, somos julgados "ingratos" e, como tais, condenados, quando não atacados e perseguidos e sem direito à defesa, pois estão eles protegidos sob o anonimato que a virtualidade traz.



É aqui que questiono a validade de toda essa "generosa" amizade propalada pela rede. Que vínculo é este, onde aquele que se dizia "amigo", por não se sentir retribuído em seu "amor", de repente passa a distribuir emails denegrindo nosso caráter? Que tipo de amizade é esta que ontem nos exaltava e agora não mede esforços para diminuir nossa importância perante os nossos pares? Como alguém esperava ser amado se não se fez amorável, e repudiou nossos gestos de aproximação por não aplacarem seu apetite voraz? Como pode alguém se sentir lesado por uma amizade que nem chegou a acontecer, abortada que foi, pois a queria aqui e agora e com determinada intensidade, já que era agora e aqui que precisava dela - e esse agora não era nosso momento ainda? 

 

Cada um de nós tem seu próprio "timing". Alguns são mais lentos para se envolver, enquanto outros o fazem mais rapidamente. E todos nós também temos estórias de decepções, cicatrizes provenientes de afetos frustados e receios por envolvimentos. Há aqueles que, por não passarem da superfície e não saberem construír laços sólidos, são "amigos" de todos; outros, mais cautelosos em seus quereres, e mais preocupados com a qualidade dos seus vínculos, aprendem a conhecer as pessoas e a descobrir que grau de proximidade podem estabelecer com elas. Porque existem graus nas amizades, também. 



Com algumas pessoas, temos uma afinidade de alma inexplicável e nem sequer precisamos falar o que sentimos - elas nos sabem, nos percebem e nos entendem. E mesmo que tenhamos interesses opostos, que não sejamos parceiros em muitas coisas, não participemos da mesma turma, ou nos vejamos pouco, felizes somos por saber que nos queremos bem. 



Com outras pessoas de quem gostamos, a quem admiramos, e com quem temos uma convivência satisfatória, não nos sentimos à vontade para trocar intimidades. Não as achamos capazes de entrar em empatia com nossos sentimentos e, por este motivo, nos reservamos o direito de não nos expor demais. E a despeito disto, continuamos a gostar delas, a apreciá-las e, a descomplicadamente, desfrutar de sua companhia. 



Temos também parceiros em atividades diversas. Parceiros com quem trocamos informações profissionais, outros com quem discutimos conceitos religiosos, alguns em cuja companhia agradável fazemos longas caminhadas, parceiros com quem gostamos de sentar à mesa de um bar e simplesmente jogar conversa fora... Enfim, parceiros circunstanciais, a quem também queremos bem, mas não chamamos de amigos. São relações superficiais e fazem parte da vida, feita de encontros e desencontros como ela é. Acredito nas amizades virtuais, sim. E que se tornem sólidas, sejam perenes e nos proporcionem inúmeras alegrias. Acredito, também, que possam transcender o virtual e que se revelem reais e intensas, confirmando tudo aquilo que no virtual sentíamos. 

 

Mas, insisto, a amizade não acontece de um dia para o outro: há que se percorrer juntos o caminho do conhecer e se dar a conhecer; do conquistar e ser conquistado; do confiar e merecer confiança; do respeitar e ser respeitado; do aceitar e ser aceito. É necessário deixar a amizade fluir naturalmente, sem pressa, sem ansiedade, sem pressão e, sobretudo, sem cobrança, pois só assim poderá o bem-querer madurar de forma saudável.



Temos que entrar em contato com nossos sentimentos para discernir se o que queremos com o outro é, de fato, uma relação equilibrada, ou que ele apenas nos abasteça com aquilo que nos falta. Ha, tambem, que se perceber o mesmo em relação às expectativas que o outro tem de nós. E, sobretudo, ouvir nosso coração, quando ele nos disser CAUTELA!!!  



E, acima de tudo, temos que aceitar que nem sempre seremos correspondidos — em grau, gênero e número — em nossos afetos. Que as pessoas são diferentes umas das outras. Que cada um gosta de um jeito peculiar e único. Que amizade é uma dádiva e, como tal, há de ser recebida e agradecida. Que vamos encontrar, ao longo de nossa vida, pessoas que não gostem de nós. E que isto não precisa causar sofrimento. 



Ao contrário, há de servir para sermos mais seletivos em nossos vínculos e vivenciarmos relações mais eqüitativas e gratificantes.



  26.03.2002

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