A defesa deste irmão,
Que não tem dado trabalho,
Fazemos de coração:
É madeira para entalho.
Já chega de sutilezas,
Doutra forma me embaralho.
Deixemos de profundezas:
Belo terno em seu bom talho.
Choraminga este escrevente
Do que ele chama retalho,
Acusando minha gente
De só servir de espantalho.
Pois vou dizer-lhe somente,
Entrando por um atalho,
Que não espere da gente
Muito tempero: só alho.
Que rima mais insistente:
Desse recurso eu me valho,
P’ra tornar mais consistente
O poder deste meu ralho.
Sinto muito, bom amigo,
Se insistimos neste malho.;
Mas, se for brigar comigo,
O sino eu já não bimbalho.
Só vou experimentando,
Para ver onde é que encalho,
Neste som pouco nefando,
Quando rima com orvalho.
Se você está cansado,
Encostado no carvalho,
Procure mudar de lado:
Neste conselho não falho.
Não vá pensar que tão logo
Quebraremos o seu galho.;
Dessa maneira é que jogo
As rimas que cedo espalho.
Não fazemos exercícios
Nesta espécie de assoalho,
Pois rimar é um dos vícios
Que soam como chocalho.
Não vá pensar que esgotei
Todos os termos em “-alho”.;
Já que vexame não dei:
Tão cedo não me atrapalho.
A pedido do escrevente,
Que em tudo vê rebotalho,
Eu vou parar, finalmente,
E voltar ao meu trabalho.
Bem certo como, na vida,
Há dias maus e felizes,
A turma está comovida:
A rima lança raízes.
Por isso, caro escrevente,
Não fique a ralhar co’a gente
E não seja indiferente,
Por não sermos grandiosos.;
Qualquer hora, conseguimos
Chegar dos versos nos imos
Como dos montes nos cimos,
Usando termos preciosos.
P’ra isso, será preciso
Que criemos mais juízo,
Não perdendo o paraíso,
Evitando uma desgraça.;
Deliberando firmar
O desejo de voar,
Como as aves pelo ar,
A rimar com muita graça.
Está bem curto o exercício,
Nesta tarde mui fagueira.;
É que é fortíssimo o indício
Duma grande brincadeira.
Mas, antes que o nosso amigo,
Se separe desta mesa,
Ralhando muito comigo,
Vou lhe deixar a certeza
Que com você eu não brigo,
Pois a vida é uma beleza,
Principalmente se vem
Cheia de amor e de bem.
Só vamos agradecer
A quem tem sido gentil,
Não deixando de fazer
Uma prece varonil,
P’ra demonstrar bem-querer
Aos amigos do Brasil.
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